A tenista chinesa Peng Shuai, cujo desaparecimento criou preocupação internacional nas últimas semanas, apareceu, na última semana, em vídeos publicados no Twitter por jornalistas chineses de órgãos relacionados com o Governo, a assinar bolas muito sorridente num evento desportivo. Um outro vídeo mostrava Shuai num restaurante em Pequim, a jantar com várias pessoas.
Apesar de estes vídeos terem sido um sinal positivo em relação à segurança da tenista, que no início do mês usou a rede social chinesa Weibo para denunciar um alegado caso de abuso sexual cometido pelo ex-vice-primeiro-ministro chinês Zhang Gaoli, o presidente da Associação de Ténis Feminino (WTA), Steve Simon, referiu que estas provas eram “insuficientes” e não garantiam que Shuai estaria em liberdade.
“Como deixei claro desde o início, estou muito preocupado com a saúde e a segurança de Shuai Peng e também porque as suas alegações de abuso sexual foram censuradas e empurradas para debaixo do tapete”, afirmou Simon.
O jornalista Tom Cheshire da Sky News foi aos locais onde, alegadamente, a tenista de 35 anos esteve nos dois vídeos publicados, dirigindo-se, primeiro, ao popular Beijing Yibin Guesthouse, onde os clientes “fazem filas” para provar os pratos exclusivos do local, assim relata o jornalista. À equipa, uma das funcionárias confirmou a presença de Shuai no estabelecimento, para jantar, no sábado à noite. “Sim, ela esteve aqui a comer. Esse é o nosso restaurante”. Contudo, a funcionária não viu a tenista pessoalmente, referindo estar “ocupada com o trabalho”.
Nesse dia à tarde, Cheshire visitou o National Tennis Center, onde alegadamente foram publicadas as imagens da tenista a posar para as câmaras e a assinar bolas. Um elemento do staff confirmou que Shuai teria estado lá e que a teria visto, acrescentando que a equipa de jornalistas não podia estar no recinto.
Ao analisar o vídeo, Cheshire fala do pormenor “bizarro” em que Shuai e as pessoas que estão consigo referem a data cinco vezes e em voz alta, no vídeo de pouco mais de um minuto. “Isto não é o que, normalmente, amigos fazem numa noite de sábado – é mais o tipo de coisa que se esperaria de um vídeo que fosse uma forma de prova de vida”, escreve o jornalista, que refere ainda não ter visto qualquer sinal da tenista, quando visitou os locais onde alegadamente teria estado.
A conta da Weibo da tenista, onde foi denunciado o alegado crime cometido por Gaoli, continua bloqueada e, como as atualizações do seu paradeiro têm sido fornecidas apenas por órgãos de comunicação ligados ao governo, a dúvida sobre se Shuai está bem e em segurança permanece.
No último domingo, a tenista apareceu pela primeira vez em direto numa chamada de vídeo com o presidente do Comité Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, garantindo estar “bem e a salvo” na sua casa em Pequim e fazendo o pedido a todos de que a sua privacidade fosse respeitada. Contudo, o COI está agora a receber fortes críticas pela forma como lidou com o caso, sendo que a videochamada já foi considerada insuficiente pela Amnistia Internacional. “O COI está a entrar em águas perigosas. Deve ser cuidadoso para não participar em qualquer tipo de tentativa de limpar a imagem da China nesta situação de possível violação dos direitos humanos”, referiu Alkan Akad, investigador da Amnistia.
Entretanto, durante uma reação oficial excecional, a China já pediu que se pare de “politizar” este caso. “Acho que algumas pessoas deviam parar de usar deliberadamente esta questão para fins hostis e, especialmente, transformá-la numa questão política”, referiu o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Zhao Lijian, em conferência de imprensa.
Esta quarta-feira, a União Europeia pediu à China uma “prova verificável” da liberdade de circulação da tenista Peng Shuai e uma “investigação completa e transparente” às alegações de abuso sexual que denunciou.