Richard Ayvazyan e a sua mulher, Marietta Terabelian, estavam em prisão domiciliária por terem participado num esquema fraudulento que roubou milhões de dólares a fundos americanos para a Covid-19, quando decidiram cortar as pulseiras eletrónicas e fugir. Abandonaram a casa da família, na Califórnia, em agosto, deixando aos três filhos de 13, 15 e 16 anos uma carta de despedida. No esquema estava também envolvido o irmão de Richard, Artur Ayvazyan.
De acordo com o advogado de Ayvazyan, este e a mulher escreveram na carta: “Voltaremos a estar juntos um dia. Isto não é um adeus mas uma breve separação uns dos outros.”
A fuga do casal, no entanto, não impediu o juiz distrital Stephen V. Wilson de os julgar à revelia em tribunal, condenando-os a 17 e 6 anos de prisão. Richard Ayvazyan recebeu a pena mais pesada. Marietta Terabelian recebeu uma pena de seis anos e Artur Ayvazyan foi condenado a cinco.
Depois de um julgamento que se estendeu ao longo de oito dias, os irmãos Ayvazyan e Terabelian foram condenados por fraude bancária e conspiração para cometer lavagem de dinheiro. Os dois irmãos foram ainda condenados por roubo de identidade agravado.
“Os arguidos serviram-se da crise da Covid-19 para roubar milhões de dólares em ajuda governamental muito necessária destinada a pessoas e empresas que estão a sofrer os efeitos económicos da pior pandemia do século”, disse a procuradora norte-americana Tracy L. Wilkison.
O casal fazia parte de um grupo – do qual foram condenadas oito pessoas até à data – que usava identidades falsas ou roubadas para apresentar candidaturas fraudulentas a empréstimos federais de ajuda à pandemia para particulares e pequenas empresas. De acordo com as provas e documentos apresentados em tribunal, o grupo usava identidades de pessoas idosas ou já falecidas, e de estudantes internacionais que tinham visitado os Estados Unidos da América há alguns anos.
Em conjunto com as candidaturas, os arguidos apresentaram ainda documentos de identificação falsificados, bem como documentos fiscais e recibos de vencimento falsos. Com o esquema, obtiveram mais de 20 milhões de dólares (cerca de 17,6 milhões de euros) destinados a apoios federais em sequência da pandemia, ao abrigo do Paycheck Protection Program (PPP) e do Economic Injury Disaster Loan (EIDL).
De acordo com a acusação, com o dinheiro obtido, os arguidos adquiriram casas de luxo em três localizações na Califórnia, moedas de ouro, diamantes, jóias, relógios, mobiliário e malas de designers de luxo e até uma mota Harley-Davidson.
Ainda não é claro se Richard Ayvazyan desempenhava o papel de líder do grupo e se desenhou de facto o esquema, mas a verdade é que recebeu a pena mais pesada de todos os acusados até agora neste processo. Mas o seu advogado, Ashwin J. Ram, alega que a acusação exagerou largamente na imagem que pintou do seu constituinte, e que ele não teve um papel assim tão relevante no esquema.
“É de notar que o governo referiu-se repetidamente a este caso como um caso de 18 milhões ou 20 milhões de dólares, dependendo do dia e de quem estava a falar”, disse em declarações à CNN. “Na audiência de sentença, contudo, o tribunal considerou que Richard Ayvazyan é apenas responsável por uma perda na ordem dos 1.5 milhões de dólares. Isto está muito longe da teoria do governo sobre o caso”.
Ram, que se opôs a que o julgamento decorresse sem a presença dos réus, lamenta que Ayvazyan – com quem não teve contacto desde a sua fuga, em agosto – não tenha estado presente no tribunal, pois assim não foi possível ouvir a sua versão dos acontecimentos nem aferir sobre “os seus antecedentes e experiência, incluindo o seu papel de líder na comunidade, investidor, pai e marido”.
O advogado realçou ainda que existe a possibilidade de o casal estar a ser perseguido, daí a sua fuga repentina, ou mesmo ter sido raptado – teoria em que a família do casal também acredita. “Ele (Ayvazyan) tem sido acusado de conspirar com dezenas de pessoas, e apenas algumas foram acusadas. Portanto, se ele é realmente o líder, alguém lá fora pode querer silenciá-lo”, defende. Além disso, de acordo com Ram, também foi feita uma menção, na carta, aos “perigos que a família pode estar a enfrentar”.
Os três filhos do casal encontram-se à guarda das avós e de um profissional designado pelo tribunal, que solicitaram, com caráter de urgência, passaportes para que as crianças pudessem viajar para a Arménia, onde têm familiares. Os guardiões esperavam assim protegê-los do ‘circo mediático’ montado em volta da condenação dos seus pais e tio, mas os pedidos foram recusados.
Neste momento, o casal está a ser procurado pelo FBI, que oferece uma recompensa de 20 mil dólares por informação que possa ajudar na captura do casal.