Quatro meses depois, Zahra e Asghar continuam sem saber quem é que gritou em inglês “Eles têm um bebé!”, no meio da multidão concentrada do lado de fora do aeroporto de Cabul. No sossego do quarto de hotel onde moram desde que chegaram a Toronto, rebobinaram vezes sem conta aqueles minutos, mas apenas se lembram de ouvir, logo a seguir, pessoas a implorar: “Take the baby! Baby! Baby!”.
Quando recuam a esse momento, a pedido da jornalista Shannon Gormley da revista canadiana Maclean’s, os pais de Farhan reveem os soldados americanos, empoleirados no muro encimado por arame farpado, a deixar entrar em primeiro lugar quem está a acenar com documentos carimbados pelos Estados Unidos. Ocasionalmente, eles também içam uma criança ou outra, mas Zahra já tinha decidido que mais depressa enfrentaria os talibãs do que passaria o filho por aquele muro. Vira uma menina de três ou quatro anos cortar-se na vedação, e a imagem do sangue a escorrer-lhe por uma perna, debaixo do vestido, não lhe saiu da cabeça.