Num comunicado divulgado na página oficial do Twitter da Missão Integrada das Nações Unidas para a Transição no Sudão, Volker Perthes garantiu que “permanece em contato constante com todas as partes para facilitar uma solução política de acordo com o Documento Constitucional”.
Na mesma nota, o responsável acrescentou que a missão tem como objetivo mediar e “facilitar um diálogo inclusivo” entre as partes, já que esta continua a ser “a única forma para alcançar uma solução pacífica para a crise atual”.
Na noite de sexta-feira, Perthes deu conta, também na rede social Twitter, de que se reuniu com o comandante das Forças de Apoio Rápido, o general Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido por Hemedti, para “reduzir a escalada, permitir protestos pacíficos e evitar qualquer confronto” nos grandes protestos convocados para hoje, contra o motim levado a cabo na última segunda-feira.
As Forças de Apoio Rápido são uma ex-milícia sudanesa acusada de crimes contra a humanidade na região de Darfur e de repressão nos protestos de 2019, que foram convertidos num corpo militar.
Para hoje estão convocados grandes protestos nas ruas da capital, Cartum, que se estendem por dezenas de países por todo o mundo, contra o golpe militar liderado pelo líder militar sudanês, o general Abdelfatah al Burhan, que dissolveu os órgãos criados para a transição democrática e declarou estado de emergência no país.
Várias organizações e países apelaram para que a paz seja mantida durante os protestos de hoje e que as forças de segurança evitem o uso excessivo da força.
O Sudão foi palco de protestos violentos nos últimos anos, contra o regime do ditador Omar al Bashir, como o de 03 de junho de 2019, quando as forças de segurança, especialmente as Forças de Apoio Rápido, dispersaram uma manifestação em Cartum com munições reais, matando mais de 100 pessoas e ferindo pelo menos 700, de acordo com a Amnistia Internacional.
O general Al-Burhan, chefe das Forças Armadas sudanesas, anunciou na segunda-feira na televisão estatal do país a dissolução do Governo e do Conselho Soberano — o mais alto órgão executivo do país –, a suspensão de vários pontos da carta constitucional aprovada em agosto de 2019 e que estabelece um roteiro para a realização de eleições, e a instauração do estado de emergência.
A tomada de poder pelos militares foi amplamente condenada pela comunidade internacional.
A tomada do poder pelos militares na segunda-feira seguiu-se a semanas de crescente tensão política no país, intensificadas como uma tentativa de golpe de Estado em 21 de setembro último.
Esforços de membros civis do Governo em reformar o setor da segurança no país geraram uma forte reação dos militares, inclusive de Al-Burhan.
Os militares deixaram de participar em reuniões conjuntas com membros civis, o que atrasou, por exemplo, a aprovação por parte do Conselho de Ministros de entregar o antigo ditador Omar al-Bashir e outros dois responsáveis do regime deposto em abril de 2019 ao Tribunal Penal Internacional (TPI).
Nas primeiras horas de 25 de outubro, os militares prenderam pelo menos cinco ministros, bem como outros funcionários e líderes políticos, incluindo o primeiro-ministro Abdalla Hamdok, levando-os para um local não revelado.
MPE // MSF