Três meses depois de serem levantadas praticamente todas as restrições no Reino Unido, os casos graves de Covid-19, hospitalizações e mortes pela doença têm aumentado, revelando-se muito mais altos comparativamente aos países do resto da Europa. Esta terça-feira, o Reino Unido registou o maior número diário de mortes desde o início de março, 223.
Relativamente às duas últimas semanas, o Reino Unido registou quase meio milhão de casos de infeção pelo novo coronavírus, 50 mil apenas na última segunda-feira, somando, segundo o Our World in Data, mais casos do que Espanha, França, Alemanha e Itália e juntas.
Quase todas as medidas de confinamento foram levantadas em Inglaterra a 19 de julho, com o ministro da Saúde, Sajid Javid, a referir, no Parlamento, que aquele era o momento certo para levar a nação “mais perto da vida normal”.
O governo tinha concluído que estavam cumpridos os quatro testes definidos para o desconfinamento, nomeadamente o sucesso da vacinação, indícios de que as vacinas estavam a reduzir as hospitalizações e mortes, que as taxas de infeção não corriam o risco de sobrecarregar os serviços de saúde e que nenhuma nova variante pudesse ser particularmente perigosa.
Apesar disso, Javid afirmou, na altura, que, embora as medidas deixassem de ser obrigatórias por lei, continuariam a ser feitas recomendações às pessoas e empresas para respeitarem o distanciamento social e evitarem a transmissão do vírus.
Contudo, em meados de setembro, o Reino Unido renunciou ao projeto que previa a introdução do certificado de vacinação para aceder a locais muito frequentados em Inglaterra. “Nunca gostei da ideia de dizer às pessoas para mostrarem papéis (…) para fazerem o que é apenas uma atividade de rotina. Vimos como deveria ser e, embora devamos mantê-lo na reserva como uma opção potencial, estou feliz em dizer que não vamos continuar com esse nosso projeto do certificado de vacinação”, afirmou, na altura, Sajid Javid, em declarações à BBC, afirmando ainda que considerada o certificado “supérfluo” devido ao sucesso da campanha de vacinação contra a covid-19.
Já a Escócia decidiu introduzir, desde 1 de outubro, um certificado de vacinação para acesso a discotecas e a outro tipo de locais de diversão com o objetivo de conter o aumento de casos devido ao início do ano escolar.
Neste momento, o aumento das hospitalizações nos hospitais está a colocar novamente grande pressão nestes estabelecimentos, com quase mil internamentos diários de doentes com Covid-19, mas, para Deepti Gurdasani, epidemiologista da Queen Mary University, em Londres, esta situação era “previsível”. “Isto é uma consequência da abertura de tudo”, garante à CNN, acrescentando que, com o inverno, o cenário vai piorar.
Sajid Javid, alertou, na última quarta-feira, que os casos podem vir a aumentar para 100 mil em apenas um dia antes do Natal e, no mesmo dia, a NHS Confederation, uma associação que inclui médicos e outros profissionais de saúde que trabalham no serviço público de saúde, instou o governo a passar para o Plano B de restrições, que inclui certificados de vacinação e obrigatoriedade da utilização de máscara em locais com muita gente e em todos os espaços fechados.
A associação refere ainda que estas medidas são extremamente necessárias para evitar uma crise de inverno devido à sobrecarga dos hospitais e que Boris Johnson devia imediatamente ativar o plano que garantiu que ativaria caso a situação se tornasse insustentável.
Contudo, o governo britânico referiu que não tenciona pôr em marcha esse plano, acrescentando que a primeira linha de defesa contra a Covid-19 continua a ser a vacinação, e que continua a acompanhar de perto a evolução dos casos de Covid-19.