Investigadores do Reino Unido identificaram lepra, uma infeção crónica provocada pelas bactérias Mycobacterium leprae ou Mycobacterium lepromatosis, em chimpanzés selvagens pela primeira vez. As descobertas foram feitas na Guiné-Bissau e na Costa do Marfim e são o resultado do estudo do comportamento destes animais durante quatro anos, entre 2015 e 2019.
Esta doença, que leva ao desenvolvimento de nódulos no trato respiratório, pele, olhos e nervos, já tinha sido identificada anteriormente em animais selvagens, como em esquilos-vermelhos, no Reino Unido. Mas os pesquisadores, que utilizaram armadilhas fotográficas para observar os chimpanzés, afirmam que esta é a primeira vez que é identificada lepra numa espécie não humana em África.
A partir das observações, a equipa do estudo, publicado na última quarta-feira na revista Nature, identificou dois machos e duas fêmeas com lesões graves – nódulos e lesões no rosto -, semelhantes às que a lepra provoca, sendo que os sintomas foram progredindo com o tempo, tal como acontece com os humanos.
Ainda não se sabe como é que os chimpanzés ficaram infetados, mas os investigadores acreditam que possa ter sido através do contacto com humanos ou devido a “fontes ambientais desconhecidas”, lê-se no estudo. Em relação ao tratamento destes chimpanzés, Kimberley Hockings, da Universidade de Exeter, no Reino Unido, e uma das autoras do estudo, diz à CNN que pode ser um desafio. “Para os animais que não estão habituados aos humanos, como estas populações específicas, é muito difícil administrar antibióticos. Há restrições relativamente ao tratamento da lepra em animais e temos de considerar as implicações éticas”, explica a investigadora. As pesquisas sobre como os chimpanzés selvagens ficaram infetados e o que isso significa para a espécie vão continuar, afirmam os investigadores.
A lepra tem um período de incubação médio de cinco anos, mas os sintomas podem começar a aparecer entre um a 20 anos depois da infeção e vão-se desenvolvendo, ao longo do tempo, manchas esbranquiçadas na pele e alteração dos nervos periféricos, o que diminui a sensibilidade à dor, toque e calor. Isto pde fazer com que se percam partes das extremidades devido a lesões ou infeções sucessivas que passam despercebidas. Contudo, o tratamento da lepra em humanos é relativamente simples, principalmente se for diagnosticado precocemente.