O secretário de defesa britânico, Ben Wallace, rejeitou as alegações de que o governo do Reino Unido bloqueou o voo para resgatar funcionários e animais de um abrigo em Cabul e explicou não estar preparado para priorizar os animais de estimação em vez de pessoas nos voos de repatriamento: “Receio que não gostem de mim por isso, mas é a minha opinião. Existem pessoas muito desesperadas sob ameaça.”
Paul Farthing, que fundou o abrigo para animais Nowzad, tinha afirmado na última quarta-feira que o Ministério da Defesa do Reino Unido bloqueou um voo que ele tinha conseguido através de donativos para levar 69 funcionários e cerca de 200 animais de volta ao Reino Unido. O ex-militar fundou o abrigo depois de servir o Exército Britânico no Afeganistão, em meados dos anos 2000, com o objetivo de resgatar cães, gatos e burros.
Em conferência de imprensa, Ben Wallace defendeu que os militares foram “desviados” do foco principal de salvar pessoas e até já tinha anunciado que Farthing e a equipa seriam elegíveis para um lugar num voo da Força Aérea Real (RAF) que partiria de Cabul – mas não os animais. Fazer com que os animais passassem no controlo dos talibãs ou pelas multidões seria complicado.
“Milhares e milhares de pessoas, algumas das quais estão sob ameaça direta por causa do que fizeram nos últimos 20 anos têm o direito de entrar num avião tanto quanto qualquer outra pessoa. Portanto, a nossa prioridade é evacuar essas pessoas, não posso empurrá-las para fora do caminho para permitir outros casos”, explicou Ben Wallace.
Com todas as contestações, de que Wallace não estava a fazer o suficiente para ajudar a evacuação dos animais, o secretário da defesa britânico publicou no Twitter que caso Paul Farthing se dirigisse ao aeroporto com os animais, os militares tentariam facilitar a entrada no avião pago pelos donativos à associação.
Até porque os EUA, que controlam parte do aeroporto, também terão de autorizar o embarque de Farthing e dos animais, que pode ser dificultado pelo facto de os membros da associação não serem considerados grupo de “prioridade” elevada, por não enfrentarem um risco direto. Segundo Wallace, a equipa do Reino Unido no Afeganistão solicitará a permissão dos americanos para que Farthing e os animais entrem pelo lado ocupado pelas forças norte americanas.
Para além disso, a evacuação dos animais só está garantida se o avião privado de Farthing chegar efetivamente ao aeroporto. Wallace disse que não poderia colocar animais num avião da RAF por razões de segurança e saúde pública, uma vez que “o avião precisaria de ser retirado de circulação, o que significa que não teria um avião que precisa desesperadamente para tirar centenas de pessoas nos próximos dias”.
Operação Arca
Durante o dia de quinta-feira, o voo privado de Farthing, que deveria partir do aeroporto de Luton, Londres, foi cancelado devido a questões de segurança. A alternativa seria utilizar um avião de um país vizinho ao Afeganistão, mas a companhia aérea foi informada de que não poderia pousar em Cabul até que Farthing tivesse permissão para entrar no aeroporto.
Já dentro das instalações, com o caos provocado pelas duas explosões no perímetro do aeroporto de Cabul, o ex-militar foi apanhado no meio da confusão. “Toda a equipa e os cãos e gatos estavam, em segurança, 300 metros dentro do perímetro do aeroporto”, explica.
“Passamos por um inferno para chegar lá e fomos mandados para o caos daquelas explosões devastadoras”, pode ler-se na rede social de Farthing, com a justificação de que Joe Biden tinha alterado as regras burocráticas, duas horas antes.
Farthing disse que o presidente dos EUA, Joe Biden, “parou” a sua tentativa de tirar os animais do país e que os talibãs estavam a impedir que pessoas do Afeganistão entrassem no aeroporto, mesmo que tivessem passaportes britânicos.