As baterias estavam todas apontadas para a Maratona de Tóquio 2020. “É das provas mais abertas e vamos para a linha da partida com aquela esperança de vencer. Vai ser muito difícil, mas acreditamos. Por isso é que o desporto é bonito, quem sabe se aquele não é o nosso dia? Há o fator surpresa, a esperança, a emoção, tudo é metido no caldeirão e depois sai de lá magia”, descreve Sara Catarina Ribeiro. A atleta de Lousada, de 31 anos, irá estrear-se nos Jogos Olímpicos (JO), precisamente na prova rainha do atletismo, após ter falhado, em 2016, o apuramento para os dez mil metros, por 16 segundos. “Decidi trocar de estratégia e apostar na maratona. Qualifiquei-me logo no início de 2019. Se a marca não chegasse, poderia ter outra oportunidade de fazer melhor tempo. Mas correu tudo bem e consegui realizar o meu sonho de criança”, conta, sem conter o entusiasmo.
A primeira atleta portuguesa a conseguir o apuramento foi, contudo, Carla Salomé Rocha, 31 anos, natural de Vizela, com o melhor tempo (02:24.47). “Partilho com a Patrícia o treinador, Rui Ferreira e, tal como ela, dei cedo o salto para a maratona, aos 27 anos”, recorda, ela que já foi atleta olímpica no Rio de Janeiro, mas a correr nos dez mil metros. Com o Comité Olímpico Internacional (COI) a estabelecer uma quota apertada de participantes nas provas de meio-fundo – nos dez mil metros, por exemplo, poderia haver apenas 27 participantes por ranking mundial, que cumprissem a marca de acesso direto de 31:25.00 –, os 80 lugares de acesso à prova rainha do atletismo estariam, à partida, mais acessíveis. Na maratona, os mínimos estavam fixados em 02:29.30 horas, mas o cancelamento de várias provas durante 2020, provocado pela pandemia, tornou esse objetivo mais difícil de alcançar. Para Sara Moreira, 35 anos, o adiamento dos JO e a extensão dos prazos de qualificação definidos pelo COI até lhe permitiu alcançar, finalmente, o apuramento. Fê-lo em abril deste ano, em Twente, nos Países Baixos, numa prova em que ficou no segundo lugar, com o tempo de 02:26:42. “Este ciclo de cinco anos foi muito duro, com momentos em que pensei que não seria capaz. Até os jogos serem adiados, sofri um bocadinho, depois foi gerir a ansiedade e tentar reencontrar-me no treino para ficar competitiva e chegar aos mínimos, o que só aconteceu este ano. Joguei tudo na única oportunidade que tive”, recorda a maratonista de Santo Tirso, decidida a vencer as más memórias da desistência, por lesão, nos Jogos Olímpicos do Rio 2016.
“São tantos quilómetros que nunca se sabe o que vai acontecer. Esta imprevisibilidade faz com que tudo seja especial”, confessa Sara Moreira