“A França lamenta profundamente este passo unilateral e descoordenado, que constitui uma provocação e mina o restabelecimento da confiança necessária para a urgente retoma das negociações com vista a uma resolução justa e duradoura da questão cipriota”, assinalou, num comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da França.
O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Yves Le Drian, reuniu-se na terça-feira com o seu homólogo cipriota, Nikos Christodoulides, “a pedido deste último, e expressou o seu apoio após os anúncios feitos durante a visita do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan” à autoproclamada República Turca de Chipre do Norte (RTCN), esclareceu o comunicado.
Reafirmando a sua adesão às resoluções das Nações Unidas, a França, que detém a presidência mensal do Conselho de Segurança das Nações Unidas, anunciou que vai “discutir o assunto” hoje nesta instância da ONU.
A França, no entanto, continua presa “ao quadro endossado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, baseado numa federação com duas zonas, oferecendo às duas comunidades todas as garantias de sua igualdade política”, acrescentou o Ministério francês.
“Uma solução justa e duradoura apenas pode ser obtida tendo em consideração das realidades da ilha. Nesta ilha, existem dois Estados e dois povos”, declarou Erdogan no decurso de uma sessão extraordinária do parlamento da RTCN na segunda-feira.
Diversas iniciativas negociais mediadas pela Nações Unidas têm vindo a fracassar nos últimos anos, e o dirigente da RTCN, Ersin Tatar, próximo de Erdogan, tem vindo a propor, com o apoio de Ancara, uma solução de dois Estados.
“Fornecemos o nosso apoio à proposta [de dois Estados] defendida por Ersin Tatar. Não poderemos fazer qualquer concessão” sobre esta questão, prosseguiu, numa referência ao líder da entidade cipriota turca.
O chefe de Estado turco também afirmou “estar fora de questão perder outros 50 anos” em negociações destinadas a tentar promover a reunificação e voltou a recordar a proposta apresentada há poucos meses em Genebra por Tatar, de “registar primeiro a igualdade soberana do povo cipriota turco e depois promover negociações entre os dois Estados da ilha”.
“Não estamos a cobiçar a terra de ninguém. A nossa intenção não é provocar tensão, antes resolver os problemas através do direito, da lei e de uma partilha justa”, acrescentou Erdogan.
No entanto, a sugestão de dois Estados tem suscitado uma forte oposição da UE. Em junho, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que a UE “jamais aceitaria” essa solução.
A Turquia mantém um importante dispositivo militar na RTCN, um território que depende economicamente de Ancara.
Desde a invasão pelo exército turco em 1974 que a ilha está fraturada entre a República de Chipre — membro da União Europeia (UE) e que exerce a sua autoridade em cerca de 65% do território na parte sul –, e a autoproclamada República Turca de Chipre do Norte (RTCN), anunciada em 1983 e apenas reconhecida por Ancara.
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