No domingo, 23 de maio, o voo comercial que transportava Roman Protasevich, um jornalista bielorrusso dissidente a viajar de Atenas, na Grécia, a Vilnius, na Lituânia, foi intercetado por um caça MiG-29 sob as ordens de Aleksandr Lukashenko, presidente da Bielorrússia.
O voo, da companhia aérea irlandesa Ryanair, foi desviado para Minsk, capital da Bielorrússia, onde Protasevich foi detido. A jogada, amplamente condenada por líderes como o secretário de estado dos Estados Unidos da América, Antony Blinken, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyenfoi, é a mais recente tentativa do presidente bielorruso, Aleksandr Lukashenko, de suprimir a voz influente de Protasevich.
Mas afinal que voz é esta capaz de assustar um grande líder autoritário como Lukashenko?
Quem é Roman Protasevich?
Protasevich é o co-fundador e ex-editor do canal Nexta Live, ligado à rede social Telegram, com mais de 1 milhão de assinantes. O canal, abertamente contra Lukashenko, além de desempenhar um papel importante na comunicação dos protestos da oposição contra aquilo que esta apelidou de eleição presidencial fraudulenta, em 2020, (que deu a vitória a Lukashenko) ajudou a coordenar os mesmos.
Num momento em que as autoridades bielorrussas evitavam a entrada de meios de comunicação social estrangeiros no país, as imagens veiculadas pelo Nesta Live, que mostram como a polícia reprimiu os manifestantes com dureza, revestiram-se de uma dupla importância, ao dar a conhecer ao mundo o que se passava no país.
O espírito ativista de Protasevich remonta já à adolescência, quando foi expulso, em 2011, de uma escola de prestígio por participar numa manifestação de protesto, e, posteriormente, do programa de jornalismo da Universidade Estadual de Minsk.
Em 2019, de acordo com o Media Solidarity, um grupo que apoia jornalistas bielorrussos, devido à pressão das autoridades e com medo de ser preso, o jornalista fugiu do país em direção à Polónia, para onde levou também os pais, após estes terem sido colocados sob vigilância na Bielorrússia. Mais tarde, acabou por se fixar na Lituânia, a partir de onde continuou a pôr em causa o regime de Lukashenko, acabando por ser acusado, em novembro, de incitar a desordem pública e o ódio social.
O que aconteceu no domingo?
Domingo, 23 de maio, segundo as autoridades gregas, Protasevich regressava a Vilnius de uma conferência económica na Grécia com a líder da oposição bielorrussa Svetlana Tikhanovskaya.
O voo, que transportava cerca de 170 passageiros, deveria durar cerca de três horas. Ao aproximar-se da fronteira entre a Bielorrússia e a Lituânia, um caça a jato MiG-29 intercetou-o. Segundo um comunicado do gabinete de Lukashenko, o Presidente ordenou pessoalmente que o caça a jato escoltasse o avião da Ryanair até o aeroporto de Minsk após uma ameaça de bomba. De acordo com o comunicado, Lukashenko, aliado do presidente russo Vladimir Putin, deu uma “ordem inequívoca” para “fazer o avião dar meia-volta e pousar”.
Nenhuma bomba foi encontrada a bordo, disseram as autoridades policiais do país.
Um passageiro do voo da Ryanair que foi forçado a pousar disse à agência de notícias lituana Delfi que Protasevich estava com a cabeça entre as mãos e tremia quando percebeu que o voo havia sido desviado para Minsk e, alegadamente, terá dito: ‘Vou ser condenado à pena de morte aqui’ enquanto as forças de segurança o levavam.
Nesse mesmo dia, Antony Blinken, secretário de Estado dos EUA, criticou duramente o governo da Bielorrússia, no Twitter, pela detenção de Protasevich, referindo-se ao acontecimento como um “ato descarado e chocante desviar um voo comercial e prender um jornalista”.
We strongly condemn the Lukashenka regime’s brazen and shocking act to divert a commercial flight and arrest a journalist. We demand an international investigation and are coordinating with our partners on next steps. The United States stands with the people of Belarus.
— Secretary Antony Blinken (@SecBlinken) May 23, 2021
“Exigimos uma investigação internacional e estamos a coordenar com os nossos parceiros as próximas etapas”, disse Blinken. “Os Estados Unidos estão com o povo da Bielorrússia.”
Que tipo de pena enfrenta Protasevich?
O K.G.B, principal agência de segurança do governo na Bielorrussia, colocou o nome de Protasevich numa lista de terroristas. Se for acusado e condenado por terrorismo, o jornalista pode enfrentar a pena de morte. Já as acusações de incitar a desordem pública e o ódio social acarretam uma pena de mais de 12 anos de prisão.