Em 2019, o barbeiro Ronald Greene morreu, com 49 anos, nos arredores de Monroe, no Estado da Louisiana, EUA. Uma investigação preliminar concluiu que Greene perdeu a vida depois de resistir e lutar com a polícia a seguir a uma perseguição – devido a uma alegada infração de condução – seguida de um acidente. Nesse primeiro relatório, foi referido que os agentes envolvidos não teriam utilizado a força nem detido o homem. À família, foi dito que Ronald Greene morreu num acidente, logo depois de o seu carro bater contra uma árvore.
Dois anos depois, a agência noticiosa Associated Press teve acesso a um vídeo – que as autoridades se recusaram, durante dois anos, a divulgar – de mais de 45 minutos, filmado a partir das câmaras de corpo dos polícias, que mostra o que realmente aconteceu a 10 de maio desse ano. Nos três pequenos excertos do vídeo – com pouco mais de 2 minutos no total -, publicados pela própria agência, é possível ouvir Greene a desculpar-se à polícia, referindo estar com medo. “Sinto muito. Estou com medo. Sr. agente, estou com medo. Sou seu irmão. Estou com medo”, ouviu-se, momentos depois de a porta do carro que dirigia ser aberta e ouvir-se o som de um taser. Depois disso, Ronald Greene foi algemado, esmurrado e arrastado pelos polícias.
“Estou cheio de sangue, espero que este gajo não tenha sida”, ouviu-se de um dos polícias, ao mesmo tempo que o homem gritava de dores. De acordo com a AP, Greene terá ficado deitado de bruços durante quase 10 minutos. Depois de um longo período de tempo em que o homem não foi visto nas filmagens, a sua imagem apareceu novamente: sem reação e a sangrar da cabeça e cara, foi colocado numa maca, com o braço algemado à grade.
De acordo com um relatório da Louisiana State Police Criminal Investigations Division (em português, Divisão de Investigações Criminais da Polícia do Estado de Louisiana), “Greene foi levado sob custódia depois de resistir à detenção e a uma luta com os oficiais”. Pouco tempo depois, diz o mesmo relatório, “Greene deixou de responder e foi transportado para o Glenwood Medical Center pelo Pafford Medical Service”, acrescentando, ainda, que o jovem morreu no caminho para o hospital.
Já o relatório inicial do Glenwood Medical Center apontou como causa da morte de Greene uma paragem cardíaca, sendo também descrito um “ferimento não especificado na cabeça”. Em maio do ano passado, a família de Ronald Greene pediu que fosse aberto um processo contra sete oficiais, garantindo que o homem foi brutalmente ferido pela polícia e que foi utilizada “força letal” contra ele.
Na altura, um dos polícias envolvidos foi suspenso sem remuneração durante 50 horas por ter arrastado Greene pelo chão, embora ele não estivesse já a resistir, e por desativar a câmara do seu corpo. Um outro oficial envolvido morreu mais tarde num acidente rodoviário, horas depois de saber que seria demitido devido à sua atuação com Greene. Um outro polícia foi, entretanto, detido devido a um outro caso.
A Polícia de Louisiana recusou-se a comentar o conteúdo do vídeo, referindo, em comunicado, que a publicação “prematura de arquivos investigativos e evidências de vídeo neste caso não é autorizada” e que “prejudica o processo investigativo e compromete o resultado justo e imparcial”.
Já Andrew Scott, ex-chefe da Polícia de Boca Raton, na Flórida, disse, em declarações à AP, que “os departamentos de polícia precisam de parar de bloquear as informações que são, aos olhos do público, questionáveis. Eles têm que revelar tudo o que sabem, quando souberem ”. Scott falou ainda da forma “maliciosa, sádica e completamente desnecessária” como os polícias trataram Greene e o arrastaram de barriga para baixo, ainda que este pudesse não estar isento de qualquer culpa.