O rápido encerramento de fronteiras e o eficaz confinamento obrigatório, medidas tomadas pelo governo liderado por Jacinda Ardern, transformaram esta ilha da Oceânia, com uma população de cinco milhões de habitantes, num caso de sucesso a lidar com um vírus tão contagioso e letal. Até agora, a Nova Zelândia contabilizou um total de pouco mais de 2 600 casos de Covid-19 desde o início da pandemia e, neste momento, tem apenas 28 casos ativos. Com o seu plano de vacinação em marcha, as equipas médicas da Nova Zelândia já vacinaram 217 mil pessoas com uma dose, tendo 87 mil levado as duas doses, exclusivamente com a vacina da Pfizer/BioNTech, a única autorizada no país.
Entretanto, as diretrizes de um desconfinamento prudente abriram, a 19 de abril, as fronteiras entre a Nova Zelândia e a Austrália. “Viagens-bolha” entre os dois países vizinhos permitem que australianos e neozelandeses circulem sem qualquer restrição, ou seja, não é necessária nem quarentena, nem teste negativo à Covid-19, apenas que seja usada máscara dentro do avião. Mas, assim que haja algum surto, as viagens serão de imediato suspensas.
Nesta era pós-covid no outro lado do mundo, não se adivinha que o turismo volte aos moldes anteriores a 2019. Locais turísticos como Milford Sound, fiorde na Ilha Sul e o mais conhecido dos 15 que integram o Parque Nacional de Fiordland – com a sua candidatura a Património da Humanidade da UNESCO em análise – não continuarão a receber milhares de visitantes. Além da preservação do meio ambiente de atrações naturais como esta é necessário também repensar o papel do turismo na economia.
Stuart Nash, ministro do turismo, apresentou esta semana o plano para “redefinir” o turismo para um mundo pós-Covid. “Não pode retornar ao seu estado anterior à Covid”, disse o político.
A estratégia passa por receber menos visitantes internacionais, a “pressão significativa” de 870 mil pessoas por ano só a Milford Sound não é viável, bem como por diversificar as economias de cidades dependentes do turismo.
Já em março deste ano, antes da permissão das “viagens-bolha”, Stuart Nash frisava que o mais importante seria atrair um número menor de visitantes de “alto valor”, tentando aliviar o fardo ambiental e social que multidões de turistas internacionais colocam em pequenas cidades. “A realidade é que temos a responsabilidade de ter uma visão intergeracional do papel do turismo na Nova Zelândia”, salientou na altura. “Não dá para voltar a ser como era.”
Segundo o relatório Indústria do Turismo Aotearoa, o turismo é a maior indústria exportadora do país, respondendo por cerca de 20% do total das exportações. Os gastos com turismo constituem uma grande fatia da economia geral, respondendo por mais de 5% do PIB e empregando direta ou indiretamente 13,6% da força de trabalho nacional.
Dos planos de Stuart Nash faz parte um pacote de 200 milhões de dólares (€165 milhões), mais de metade dos quais irão para as cidades da Ilha Sul, duramente atingidas pelo encerramento da fronteira. Além de apoiar a reabertura de algumas empresas quando os visitantes regressarem, uma grande parte do financiamento seria destinada a ajudar empresas e comunidades a ultrapassar a sua dependência de turistas internacionais. Vinte milhões de dólares (€16,5 milhões) iriam para a popular região de Queenstown Wanaka, “para ajudar a desenvolver indústrias alternativas”; outros 15 milhões (€12,4 milhões) para a “transformação [que] é necessária para proteger Milford Sound”.
“O impacto económico da perda de visitantes internacionais é sentido além da força de trabalho e das empresas de turismo”, explicou o ministro. “Comunidades inteiras, especialmente em cinco regiões da Ilha Sul, estão a enfrentar novos desafios no seu modo de vida.” Para reduzir os danos ambientais causados pelo turismo, o comissário parlamentar para o meio ambiente, Simon Upton, recomendou uma taxa de embarque para todos os voos internacionais. O dinheiro arrecadado – estimado em €331 milhões – iria para a pesquisa de aviação com emissões mais baixas e para a mitigação dos efeitos da crise climática no Pacífico.