O caso está a deixar a América em choque: um antigo jogador da NFL, a liga de futebol americano, Phillip Adams, 32 anos, foi até casa de Robert Lesslie, de 70 anos, um reconhecido médico de Rock Hill, na Carolina do Sul, e disparou contra ele e mais quatro pessoas: a mulher, de 69 anos, dois netos, 5 e 9 anos, e outro homem que trabalhava na residência. Todos morreram. Uma outra pessoa, relata ainda a Associated Press (AP), está internada em estado grave.
Segundo a autoridade policial da região, Kevin Tolson, “não há indícios de que Adams tivesse qualquer tipo de relação com Lesslie ou com a sua família”, e rematou a conferência de imprensa com alguma ironia: “nós provavelmente temos mais dúvidas e perguntas a fazer do que vocês.”
Aquele responsável adiantou ainda que tudo indica que o ex-jogador acabou por se suicidar, após ser encurralado pelas autoridades. Em tempos, Adams terá chegado a ser tratado pelo médico, adianta ainda a AP, mas a sua fonte, que pediu anonimato, não sabe dizer se era o caso agora.
Já Alonzo Adams, pai do ex-jogador, contou à Reuters que a carreira do filho “mexeu com a sua cabeça”, sublinhando sempre que “ele era um bom garoto”: Phillip Adams foi jogador da NFL durante seis anos, tendo terminando a sua carreira do Atlanta Falcons, em 2015.
Nascido e criado em Rock Hill
Adams era um filho da terra: nascido em 1988, frequentou a escola local, e no secundário tanto jogava basquetebol como futebol americano. Quando chegou à universidade, em 2006, foi chamado à equipa de futebol e, no segundo ano, fez logo 11 jogos. Já como sénior, seria voltaria a dar nas vistas como jogador, até que, em dezembro de 2010, partiu o tornozelo esquerdo. Uma lesão que implicou uma operação delicada, com vários parafusos a serem inseridos na perna.
Dispensado no ano seguinte, assinaria pouco depois pelos New England Patriots, onde esteve apenas pouco mais de um mês. Em dezembro desse mesmo ano, ingressaria nos Seattle Seahwks, mas só jogou uma vez e em agosto de 2012 via o contrato ser novamente interrompido. Mudou-se, no mês seguinte, para os Oakland Raiders, onde fez 15 dos 16 jogos, mas sofreu duas concussões em três jogos e passou ao banco de suplentes. Em março de 2013, nova mudança, desta vez com os Raiders, onde jogou também a maioria dos jogos. Um ano depois, voltou aos Seahawks, e em 2015, saltou para os Falcões, de Atlanta. Novamente sem grande sucesso. Em 2016, seria acolhido nos Kansas City Chiefs, onde ainda fez um treino, mas não voltou a jogar na liga profissional.
Um percurso conturbado que levou já o seu pai a culpar o futebol pelos problemas do filho, e que isso o poderia ter levados aos atos de violência agora conhecidos. “É um bom rapaz, bom, era um bom rapaz, e penso que o futebol o confundiu”, disse Alonzo Adams à WCNC, televisão regional associada à NBC.
Allison Hope, vizinha da frente dos pais do jogador, e a cerca de 1600 metros da casa dos Lessliers, contou ainda à AP que a polícia esteve horas a tentar negociar com Adams, de altifalante na mão, pedindo-lhe repetidamente para sair – até ouvirem o disparo que o deixou caído sem vida no chão. “Isto é algo que não consigo entender”, disse Hope.
Isolado e deprimido?
Scott Casterline, o seu agente, assumiu, entretanto, que o seu percurso acidentado como jogador acabou por levá-lo a isolar-se. “Ele não estava no seu perfeito juízo”, insistiu, várias vezes, na conversa com a AP, recordando que, depois de uma primeira lesão logo no ano da estreia, viu-se sucessivamente dispensado e vivia com “aquele tipo de estigma de alguém que estava ferido” e que lhe tinha sido “muito difícil deixar de jogar”, ele que era tão dedicado ao desporto.
“Encorajámo-lo a explorar todas as suas opções, mas ele não o fez. Sabemos que estava a sofrer, mas nunca aceitou as sugestões que lhe eram feitas”, rematando “acho que estava um pouco deprimido”:
O cornerback dos Cowboys Kevin Smith, que treinou Adams, lembrou ainda que o antigo jogador se tinha lançado num negócio de venda de smothies, antes de a Covid-19 lançar o mundo numa pandemia. Tanto Smith como Casterline fizeram ainda questão de sublinhar que o ex-jogador não bebia nem se drogava. “Nunca o vi beber nem uma gota de álcool”, salientou Smith, revelando ainda que “nada na sua casa estava fora do sítio”.