O caso está a preocupar boa parte do mundo desde que um enorme navio porta-contentores encalhou a meio do Canal do Suez, no Egipto, bloqueando a passagem a uma série de outras embarcações. O Ever Given, um navio de bandeira panamiana que transporta carga entre a Ásia e a Europa, ficou imobilizado naquele canal que divide a África continental da Península do Sinai na terça-feira, 23, e desde então multiplicam-se os esforços para o retirar do caminho – mas nem as dragas e consequentes escavações que duram desde então o conseguiram com sucesso, pondo em causa milhares de milhões de euros em carga.
Perante a agitação global causada, a empresa japonesa proprietária do navio, Shoei Kisen Kaisha, bem se apressou a pedir desculpa pelo incidente. “Estamos determinados a continuar a trabalhar arduamente para resolver esta situação o mais depressa possível”, sublinhou ainda a Shoei Kisen Kaisha Ltd, numa declaração oficial.
Como conta a Associated Press, as dragas estão a tentar limpar o lodo acumulado à volta do navio, enquanto os rebocadores vão empurrando a embarcação, de forma a dar-lhe impulso que a permita retomar a sua rota e resolver a questão. Como disse já Osama Rabei, chefe da autoridade do canal, toda a navegação feita por ali permanecerá suspensa até que o Ever Given, que tinha como destino final o porto de Roterdão, na Holanda, volte a flutuar.
Algo que poderá prolongar-se bem mais do que o desejável, como já deu conta uma equipa da Boskalis, empresa holandesa especializada em salvamento e que chegou ao local esta quinta feira. “Pode demorar semanas”, avisou o presidente da empresa, Peter Berdowski, comparando: “é como ter uma baleia gigante e muito pesada na praia.”
Repercussão de vários meses
Construído em 2018 e com um comprimento de quase 400 metros, o Ever Given é considerado um dos maiores navios de carga do mundo por conseguir transportar cerca de 20 mil contentores de uma vez. Na terça-feira, enquanto subia o famoso Canal do Suez, foi atingido por uma tempestade de areia e ventos da ordem dos 50 quilómetros por hora, tendo ficado encalhado por volta das oito da manhã. Em poucas horas, acumularam-se mais de 150 navios em espera, que estão agora a inverter a rota, algo que as autoridades contam também fazer com o Ever Given quando o conseguirem retirar do caminho.
Esta suspensão da passagem tornou-se uma preocupação porque pode acabar por afetar os carregamentos de petróleo e gás para a Europa a partir do Médio Oriente. Segundo as contas feitas pela revista de navegação Llyoyd’s List, cada dia que o Canal do Suez permanecer encerrado põe em causa o tráfego de mais de 7,6 mil milhões de euros em mercadorias.
Mas não só, como já referiu também Lars Jensen, diretor executivo da SeaIntelligence Consulting, empresa especializada no transporte marítimo de contentores, com sede na Dinamarca: “O efeito não será apenas o simples e imediato de ter a carga atrasada nas próximas semanas. Terá repercussões vários meses em várias cadeias de abastecimento.”
Reações com humor
Inaugurado em 1869, o Canal de Suez proporciona uma ligação crucial para transporte de petróleo, gás natural e demais carga pesada – e conheceu uma grande expansão em 2015, quando o governo do presidente Presidente Abdel-Fattah el-Sissi completou uma série de obras previstas que permitiram a passagem por ali dos maiores navios do mundo. Ora foi nessa nova zona que o Ever Given encalhou.
Agora, enquanto as autoridades continuam empenhadas a tentar desimpedir caminho, tentando evitar a descarga dos contentores que os obrigaria a ter de prolongar – ainda mais… – os trabalhos, as reações na internet ao caso também já se multiplicaram. Todas com muito humor à mistura.