A vida não voltou ao normal, em Israel, embora já esteja um bocadinho mais próxima disso – agora que lojas de rua, centros comerciais e museus estão a reabrir para todos. Mas nem tudo: ginásios, hotéis, teatros e concertos serão de acesso exclusivo aos portadores de um certificado de vacinação. Bares e restaurante contam ser incluídos no sistema em breve.
Foi há uma semana que aquele país, na frente do processo de vacinação a nível mundial depois de ter inoculado metade dos seus nove milhões de habitantes, implementou o “passaporte verde” – nome por que já é conhecida a aplicação digital que confirma se as pessoas foram vacinadas contra a Covid-19 ou se revelaram imunidade contra a doença.
“As pessoas mostram-se felizes”, insiste Armin Grunewald, o director do Hotel Hagoshrim & Nature, perto do Mar da Galileia, citado pelo The Guardian, reconhecendo, no entanto, que “ainda não é como antigamente”, referindo-se aos dias pré-pandemia – e que algumas regras contra a Covid-19 permanecem em vigor. Por exemplo, os hóspedes que tentaram beber café no átrio daquele espaço hoteleiro acabaram por ser aconselhados a sair, já que se mantêm os limites para o número de pessoas que podem permanecer dentro de portas.
Além disso, esclareceu Grunewald, como ainda não é possível abrir o restaurante, os pequenos-almoços são apenas servidos no quarto e embalados – e isso, tal como o facto de os menores de 16 anos, não elegíveis para vacinas, terem de apresentar um teste negativo, já suscitou algumas queixas, reconheceu.
Um sentimento agridoce que se testemunha em outros lugares – como confirma a experiência de Amit Dolev, professor de história na cidade de Rehovot, onde se situa o conceituado instituto Weizmann de Ciência, que voltou agora ao ginásio graças ao seu “passe verde”. Em declarações ao mesmo diário britânico, começa por confessar que voltou a fazer exercício físico porque “já se sentia um prisioneiro em casa”. Contudo, encontrou um ginásio meio vazio e com os equipamentos bem mais espaçados. “Muitas das pessoas que frequentam um ginásio também o fazem para ter alguma vida social. Mas, para meu pesar, nesta fase não existe nada disso.”
Shaul Elkana, gerente de um centro desportivo em Jerusalém, também não revela um entusiasmo por aí além. “O fluxo de pessoas que regressam é lento. Estamos a falar de 30% dos que costumávamos ter inscritos.”
Livre-trânsito para a UE na calha
Trata-se de um sistema muito semelhante ao referido já por vários países – do Reino Unido, à Suécia e Dinamarca – que estudam a sua apresentação tanto para se passar as fronteiras como para entrar em determinados estabelecimentos comerciais.
Boris Johnson, o primeiro ministro britânico, assumiu, entretanto, que “há uma série de questões profundas e complexas” a serem analisadas antes disso. Isto claro, depois de a Comissão de Igualdade e Direitos Humanos, ter sublinhado que a prática poderia conduzir a uma “discriminação ilegal”. Mas, nos países nórdicos, é assumidamente a grande esperança para desfrutar das férias de verão já este 2021.
Segundo já fez também saber Bruxelas, poderá ser uma opção para levantar restrições entre países na UE – embora a medida tenha sido igualmente alvo do conselho de ética alemão, alertando que “condições especiais para os inoculados” podem encorajar “uma mentalidade de despeito e arrogância”.
Ainda assim, a proposta legislativa deverá ser apresentada este mês de forma a criar “um livre-trânsito” digital que permita retomar as viagens, comprovando a vacinação ou a recuperação da infeção. “O objetivo é fornecer provas de que uma pessoa foi vacinada, ou então qual o resultado dos testes para aqueles que ainda não o foram, e ainda dar nota de recuperação no caso de já se ter estado infetado”, precisou esta segunda-feira a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, garantindo ainda que este certificado digital “respeitará a proteção de dados, segurança e privacidade”.
“Hoje, mais do que nunca, impõe-se uma abordagem comum nos movimentos dos nossos cidadãos em segurança”, sublinhou também Marta Temido em conferência de imprensa após reunião com os ministros da Saúde dos 27 – depois de considerar que se trata de um “utensílio importante” que permite aos cidadãos “enfrentar um mundo onde a covid-19 circula como doença” e onde se pretende “retomar a normalidade (…) nas melhores condições possíveis”.