Num debate, por videoconferência, com a comissão parlamentar de Comércio Internacional do Parlamento Europeu sobre as prioridades da presidência portuguesa do Conselho da UE nesta área, Augusto Santos Silva defendeu que “é muito importante aproveitar este ‘momentum’ da relação” transatlântica “também na agenda comercial”, considerando que o contexto é agora mais favorável do que nos últimos quatro anos, após Joe Biden ter sucedido a Donald Trump na Casa Branca.
“Não devemos seguir os Estados Unidos, mas devemos trabalhar com os Estados Unidos. Desde logo, para resolvermos o presente vazio institucional [na OMC]. Por divergências que não puderam ser ultrapassadas no tempo da administração Trump, nós ainda não conseguimos o consenso necessário para a escolha do próximo ou da próxima diretora-geral. Esperamos que agora, com a administração Biden, o consenso seja mais fácil”, declarou o chefe da diplomacia portuguesa.
Apontando que a conferência ministerial da OMC deve ocorrer já no segundo semestre do ano, sob a próxima presidência eslovena do Conselho da UE, Santos Silva defendeu, todavia, que a União deve preparar-se “desde já para essa conferência” e deve “fazê-lo em coordenação com os Estados Unidos”.
“Devemos contar com os Estados Unidos na nossa ação para a reforma da OMC e devemos mover-nos para um ambiente amigável, favorável à solução de vários diferendos comerciais que temos hoje com os Estados Unidos, designadamente no setor aeronáutico”, afirmou.
Em novembro passado, a Organização Mundial do Comércio decidiu adiar uma reunião prevista para dia 09 desse mês para tentar escolher um novo diretor-geral, após a seleção ter sido bloqueada pelos Estados Unidos.
Oito candidatos – cinco homens e três mulheres – estavam na corrida à liderança da OMC, uma instituição em crise e que foi duramente criticada pelos Estados Unidos durante a administração Trump.
Após um processo de seleção que durou seis meses, foi anunciado no dia 28 de outubro que a candidata que estava em melhor posição para suceder ao brasileiro Roberto Azevedo era a nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala.
Os Estados Unidos manifestaram, no entanto, a sua oposição a esta escolha e disseram apoiar a outra candidata, a sul-coreana Yoo Myung-hee.
O veto norte-americano mergulhou a OMC, onde as decisões são tomadas por consenso, na maior incerteza, uma vez que Azevedo deixou o cargo no final de agosto, um ano antes do previsto, tendo vários países entendido que era preferível adiar o processo por entenderem que não era possível um entendimento enquanto Donald Trump estivesse na Presidência norte-americana.
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