Em 1972, Joe Biden tinha apenas 29 anos quando se tornou no quinto Senador mais novo da história dos EUA, ao vencer as eleições no Estado de Delaware. No entanto, ainda antes de assumir o cargo em Washington D.C., uma tragédia marca a sua vida: passado um mês da eleição, a sua mulher e filha – Neilia Hunter e Naomi – morreram num acidente de carro. Beau e Hunter Biden, os outros dois filhos, apesar de gravemente feridos, conseguiram sobreviver.
Passados cinco anos do acidente e de várias viagens de estado como Senador Americano, Joe Biden casou-se pela segunda vez, com a sua mulher atual: a professora Jill Jacobs, nova primeira-dama dos EUA. Quatro anos depois, em 1981, nasceu a única filha do casal – Ashlely Biden. Hoje, com 39 anos, a filha mais nova do novo Presidente dos EUA vive uma vida discreta, longe dos holofotes – contrastante com a “primeira filha” do mandato passado, Ivanka Trump, a empresária socialite e herdeira do reino do seu pai, de quem foi conselheira sénior.
Depois de concluir a sua educação numa escola privada em Bloomington, Delaware, Ashley foi tirar o curso de antropologia cultural na Universidade de Tulane, na cidade de Nova Orleães. Sem saber o que fazer no futuro, a jovem trabalhava em part-time numa pizzaria da sua cidade enquanto pensava em seguir a sua paixão por ativismo. Em 2010, terminou o mestrado em trabalho social da Universidade da Pensilvânia. Convencida de que podia mudar o mundo, passou os anos seguintes a lutar contra as injustiças sociaais nos EUA.
A paixão por justiça social e a morte do irmão mais velho
Enquanto filha de um Senador dos EUA durante 36 anos, Ashley acompanhou o seu pai em quatro das seis campanhas para o cargo – nas primeiras duas ainda não era sequer nascida. Esta experiência levou-a a apaixonar-se pelo ativismo e pela luta política: “o meu pai sempre me ensinou que o silêncio é cumplicidade, que eu devo intervir por qualquer pessoa que esteja a ser tratada de forma injusta. Isso manteve-se comigo até à idade adulta, é o princípio que guia a minha vida profissional”, explicou a própria à revista Marie Claire.
Ashley veio a focar-se na luta por justiça social depois de terminar o seu mestrado, mas desde cedo que perseguia esta paixão. “Quando era criança, adorava animais. Um dia, descobri que a Bonne Bell [empresa de cosméticos] estava a testar os seus produtos em animais – por isso, reuni pessoas na minha escola para enviar cartas para a empresa”, conta a própria. “Mais tarde, fiquei obcecada com a questão dos golfinhos que ficavam presos em redes de atum. O meu pai pôs-me em contacto com a Congressista Barbara Boxer, a quem eu chamava ‘senhora dos golfinhos’, que me levou para o terreno para tentar convencer os congressistas republicanos a aprovar uma lei de proteção dos golfinhos.”
Passados vários anos, em 2014, Ashely veio a tornar-se diretora executiva do Centro para a Justiça de Delaware, uma organização sem fins lucrativos que apresenta reformas de justiça para o sistema criminal. Um ano depois, deu-se a morte do seu irmão mais velho, Beau, com apenas 46 anos, vítima de cancro do cérebro – um acontecimento que teve um grande impacto na sua irmã mais nova.
“Era muito importante para a Ashley carregar o legado do Beau”, disse Jill Jacobs – o filho de Joe Biden tinha lutado por reformas de justiça no sistema criminal e trabalhado com crianças ao longo da sua carreira. “O trabalho de Hunter [o outro irmão mais velho] também foi um exemplo para ela”, explicou a Primeira-dama dos EUA. Após a morte de Beau, Ashley fundou a organização Livelihood, que desenha e vende roupa feita nos Estados Unidos. O dinheiro angariado nas vendas é doado, com o objetivo de “apoiar a reforma do sistema de justiça criminal, melhorar a educação das crianças e combater as desigualdades económicas.”
Em entrevista ao jornal Delaware Today, Ashley explicou porque é que enveredou por esta luta: “não importa se estamos a lidar com o aprisionamento e com más escolhas de vida – eu também já fiz muitas -, ou a sofrer com a morte de um irmão. Podemos sempre seguir em frente e ficar melhor.” Quando se referia às suas “más escolhas de vida”, Ashley estaria previsivelmente a falar do seu passado de festas universitárias – em 1999 chegou a ser detida em Nova Orleães por posse de marijuana.
Uma vida discreta
Uma vez que cresceu no meio de muita atenção mediática, Ashley sempre manteve uma postura reservada, com uma presença muito pontual em eventos públicos. Um dos raros momentos de exposição pública foi o da sua participação nas celebrações da vitória do pai. Ashley dançou e celebrou efusivamente em palco – um episódio muito partilhado nas redes sociais:
Numa das suas pontuais participações públicas, Ashley não escondeu que é uma pessoa reservada. Enquanto oradora no congresso “Women Rule 2014”, organizado em Washington D.C., a ativista afirmou que “é uma honra estar aqui, no meio de mulheres poderosas. Há uma ótima energia neste congresso e sinto-me muito confortável – o que é raro, neste tipo de eventos.”
Dada esta rara participação em eventos públicos, Ashely também nunca se estendeu em grandes comentários sobre a antiga Administração Trump. No entanto, na sua primeira entrevista oficial na véspera da tomada de posse de Joe Biden, a sua filha falou sobre a ausência do antigo presidente Donald Trump e da sua família na cerimónia: “Acho que eles não estão a seguir o protocolo tradicional, o que é uma pena, mas acho que estamos todos bem com isso.” Também referiu que pretende usar a sua plataforma e nova visibilidade para “lutar por justiça social, pela saúde mental e para me envolver no desenvolvimento e revitalização de comunidades.”
É expectável que Ashley Biden, casada com o médico Howard Krein desde 2012, mantenha esta sua atitude discreta e continue a sua luta por justiça social ao longo do mandato do seu pai. Distanciada dos grandes palcos políticos, mas próxima de duras realidades nos Estados Unidas, a próprio o afirma: “ainda há muito para ser feito.”