O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, exigiu esta segunda-feira um pedido de desculpas por parte do governo chinês, na sequência de um tweet difamatório em que um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros acusa a Austrália de praticar crimes de guerra no Afeganistão.
“O Governo chinês devia sentir-se totalmente envergonhado com esta mensagem. Diminui-os aos olhos do mundo”, disse Morrisson, fazendo referência à imagem publicada por Zhao Lijan, na rede social Twitter (censurada pelo governo chinês).
O tweet controverso, publicado esta segunda-feira e ainda disponível na página oficial de Lijan, remete para uma imagem falsa em que um soldado australiano segura uma faca contra o pescoço de uma criança afegã que, por sua vez, agarra uma ovelha branca. No chão, podemos ver a bandeira afegã (sob a forma das peças de um puzzle) e a bandeira australiana – que parece estar colocada por cima de corpos inertes.
Na descrição, Lijan escreveu: “chocado com o assassinato de prisioneiros e civis afegãos por soldados australianos. [Nós] condenamos veementemente estes atos e exigimos que sejam responsabilizados.”
Em resposta, o primeiro-ministro australiano pediu ao Twitter que retirasse a publicação de Lijan da sua plataforma – acrescentando que esta era “desinformação”.
“Esta é uma falsa imagem e uma calúnia terrível sobre as nossas forças de defesa e os homens e mulheres que serviram naquele uniforme durante mais de 100 anos”, afirmou Morrison, que descreveu o tweet como “verdadeiramente repugnante, profundamente ofensivo e absolutamente ultrajante”.
Na conferência de imprensa habitual do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que ocorreu esta segunda-feira, Zao não compareceu. Em vez disso, foi substituído pelo diretor do Departamento de Informação do Ministério, Hua Chunying.
“O lado australiano está a reagir tão fortemente ao tweet do meu colega – Será que isto significa que eles pensam que a morte cruel de vidas afegãs é justificada? As vidas afegãs são importantes… não devIam os soldados australianos sentir vergonha?”, disse Chunying, de acordo com a ABC News, fazendo referência às conclusões do relatório Brereton.
O relatório Brereton diz respeito a uma investigação de quatro anos, levada a cabo pelo Major General Paul Brerenton, para aferir se o exército australiano tinha atuado de forma desadequada no Afeganistão. O relatório encontrou “informação credível” que sugere que, pelo menos, 39 civis não combatentes foram mortos por militares australianos, num total de 23 incidentes que ocorreram entre 2007 e 2013. A estes números somam-se duas agressões graves.
Publicado nove dias após a celebração do Dia em Memória dos soldados mortos no país, no passado dia 6 de novembro, o relatório Brereton foi recebido com terror pelos membros do governo australiano.
Morrison contactou o presidente do Afeganistão e “expressou o seu pesar mais profundo pela má conduta de parte das tropas australianas”. Já o chefe das Forças Armadas Australianas, Angus Campbell, pediu desculpas “sinceras e sem reservas” ao povo do Afeganistão em nome das forças de defesa.
As relações diplomáticas entre os dois países têm vindo a deteriorar-se devido a tensões ideológicas, comerciais e sobre os direitos humanos.