Ao final da tarde de ontem, Donald Trump decidiu dar um pequeno passeio de carro para agradecer o apoio da multidão à porta do hospital onde está internado, devido à Covid-19. Mas esse gesto está a ser altamente criticado por profissionais de saúde, que acusam o presidente dos EUA de pôr em perigo a vida dos agentes dos Serviços Secretos que se encontravam no carro com ele.
O SUV presidencial é, além de à prova de bala, hermeticamente selado, para proteger os ocupantes de um eventual ataque com armas químicas. Isto significa que o risco de contágio no interior é ainda maior do que num veículo normal. A máscara que Trump estava a usar pouco fará, neste caso, para prevenir o contágio.
Uma das críticas veio do médico James Phillips, que trabalha no próprio hospital militar que tem servido de casa a Trump nos últimos dias, o Walter Reed Hospital, às portas de Washington. “Cada pessoa naquele veículo durante um ‘passeio’ presidencial completamente desnecessário agora tem de ficar em quarentena durante 14 dias. Podem ficar doentes. Podem morrer. Para teatro político. Ordenados por Trump para colocar as suas vidas em risco por uma questão de teatro. Isto é uma loucura”, escreveu o médico no Twitter, num post que já leva mais de 340 mil gostos e 114 mil retweets.
Os Democratas também já reagiram. Hakeem Jeffries, da Casa dos Representantes, escreveu no Twitter “Precisamos de liderança. Não de photo ops [ação feita só para a foto]”. Ainda recentemente Trump foi acusado de ter ordenado que manifestantes pacíficos em frente à Casa Branca fossem violentamente afastados pela polícia de choque só para se poder fotografar de Bíblia na mão em frente a uma igreja a poucas centenas de metros da residência oficial – o que foi descrito na altura por photo op.
A volta de carro é apontado como mais um de vários estratagemas da Casa Branca para pintar um retrato mais animador do que aquele que parece ser o real, dado o tipo de tratamentos que Trump tem recebido. O próprio médico de Trump, Sean Conley, já confessou que a sua preocupação, nos briefings diários à porta do hospital, é “refletir o estado otimista do presidente”.
O que se lê nas entrelinhas das conferências de imprensa, no entanto, é outra coisa: aqui e ali, quando é repetidamente questionado pelos jornalistas, Sean Conley vai deixando escapar alguns sintomas preocupantes, como níveis de oxigénio muito baixos e febre, embora sempre desvalorizando esses sinais. Na última conferência, o médico disse mesmo que havia a possibilidade de Trump ir para casa hoje, segunda-feira.
Vários especialistas mostram-se céticos quanto ao otimismo de Trump e do seu médico. Os esteroides que já foram injetados ao presidente, por exemplo, são considerados um tratamento de última linha.