Singapura contabiliza 27 mortes por covid-19 desde o início da pandemia, num total de 57 mil casos. A sua taxa de mortalidade de 0.05% é a mais baixa do mundo.
Esta taxa explica-se por uma estratégia que inclui testes em massa, isolamento social, máscaras higiénicas obrigatórias ou a própria definição de “morte por covid-19”, de acordo com a Reuters.
No entanto, à medida que o governo implementava esta estratégia, uma “crise silenciosa” continua a causar o caos entre os trabalhadores imigrantes do país.
Uma estratégia implacável
O governo de Singapura adotou uma política de “testes em massa” desde o início da pandemia, que mereceu elogios da Organização Mundial de Saúde (OMS). Neste momento, já testou cerca de 900 mil pessoas, o que constitui mais de 15% da sua população – uma das percentagens mais altas do mundo. Os testes são disponibilizados de forma gratuita a qualquer pessoa com mais de 13 anos que apresente sintomas.
Por outro lado, o país asiático adotou um regime rígido de hospitalização dos doentes infetados com Covid-19: todos os doentes com mais de 45 anos são hospitalizados, mesmo que não tenham sintomas graves. Os outros infetados que tenham sintomas leves ou sejam assintomáticos são imediatamente isolados em espaços utilizados pelo governo, como grandes salas de espetáculos.
Outro fator que terá contribuído para a baixa taxa de mortalidade é a obrigatoriedade do uso de máscaras desde abril – altura em que grande parte do mundo estava a debater a eficácia das mesmas.
A própria definição de “morte por Covid-19” do governo também influencia os números de óbitos – apenas são contabilizadas as mortes que resultam de causas pneumónicas, excluindo as mortes que resultam de problemas de sangue ou de coração. O presidente da Sociedade de Microbiologia e Infeção Clínica da Ásia admite que “caso a definição [de morte por covid-19] seja revista, será necessário reclassificar os casos e a taxa de mortalidade vai alterar-se”.
O outro lado da moeda
Singapura acomoda mais de 300 mil trabalhadores imigrantes, vindos de países como a Índia e o Bangladesh, que trabalham predominantemente na construção civil. Todos os trabalhadores vivem em dormitórios (que chegam a ter mais de 20 pessoas num só quarto) e deslocam-se para os seus empregos em carrinhas atoladas – as condições perfeitas para um vírus se espalhar.
A partir do meio de abril, o governo de Singapura começou a publicar dois relatórios diários diferentes – um com os casos da comunidade local e outro com os casos dos dormitórios. No final de abril, os casos dos dormitórios constituíam 88% do total, de acordo com o New York Times.
Neste momento, 95% dos casos de covid-19 em Singapura estão concentrados na população de trabalhadores imigrantes. A sua faixa etária varia entre os 20 e os 30 anos, o que permite manter a baixa taxa de mortalidade – mas traz outros problemas.
Enquanto a população de Singapura volta aos empregos, restaurantes e cinemas, muitos destes trabalhadores continuam fechados nos dormitórios, por ordem do governo. Durante a quarentena, a “população local” era incentivada a ir às compras e a fazer exercício físico ao ar livre, enquanto os imigrantes dos dormitórios não podiam sair do seu quarto.
Este tratamento desigual ao longo da pandemia causa indignação no país. Em junho, o governo de Singapura prometeu investir em medidas de proteção dos imigrantes até ao final de 2020, como a construção de novos dormitórios e o realojamento temporário de trabalhadores .