O Iémen encontra-se no meio de uma guerra que envolve três fatores: a violência, a fome e, agora, a diminuição cada vez mais acentuada do acesso aos cuidados de saúde. Sendo que atualmente os serviços de saúde estão mais focados no tratamento de pacientes com coronavírus, isto impede que muitas famílias se desloquem à procura de assistência noutras regiões, pois há o medo contrair a doença. Apesar disso, ainda há muitos pais que arriscam as suas vidas para fornecer os cuidados necessários aos filhos.
Muitas das vezes, o acontece é que as crianças têm de esperar tanto tempo para receberem tratamentos para outras doenças que não a Covid, que acabam por não resistir. Hospitais lotados com pacientes que contraíram o coronavírus, falta de médicos e enfermeiros e crianças que não são devidamente tratadas. É esta a realidade do Iémen, a juntar aos problemas adicionais que o país atravessa.
Xavier Joubert, diretor nacional da Save The Children, ONG britânica, afirma que “há mais de 5 anos, milhões de crianças lutam pela sobrevivência todos os dias. Agora, observamos uma redução chocante de 80% no uso de serviços de saúde para as crianças desde o início do ano”. Acrescenta, ainda, que apesar de o setor dos cuidados de saúde, na sua generalidade, se encontrar em declínio, as crianças são as mais atingidas, e a falta de financiamento está a contribuir para o aumento do número de mortes.
Desde janeiro que a Save The Children verificou uma diminuição do acesso aos seus próprios serviços de saúde, e o cenário agravou-se a partir de maio. Num comunicado feito pela organização, cerca de 450 pessoas por mês não recebem tratamento nas clínicas, incluindo 207 crianças que sofrem de doenças que se podem revelar fatais caso não recebam os cuidados necessários, como acontece com a cólera e a doença do mosquito-da-dengue. Para além disso, a fome é outro fator que agrava o cenário. Estima-se que o número de crianças desnutridas com menos de 5 anos alcance os 2 milhões até ao final de 2020. “Em Lahj e Hajjah (províncias do Iémen), as taxas de desnutrição atingiram os 11% e as nossas equipas continuam a lutar para fornecer serviços de nutrição”, declara Joubert.
Desde 2015 que o Iémen é palco de uma guerra civil que tem vindo a afetar a vida de milhares e milhares de pessoas. As crianças, no entanto, são as mais afetadas pela “maior crise humanitária do mundo”, como alerta a ONU.