A polícia italiana identificou três contentores suspeitos que foram depositados no porto de Salerno, no sudoeste da Itália, com cerca de 15 toneladas da droga, no formato de 84 milhões de comprimidos marcados com logotipo Captagon, no valor de mil milhões de euros, informou esta semana a Guardia di Finanza.
As autoridades afirmam que “esta é a maior apreensão de anfetaminas do mundo” em termos de valor e quantidade.
Domenico Napolitano, chefe da polícia da cidade de Nápoles, disse à CNN que as drogas estavam “bem escondidas” e que os detetores do porto não as identificaram. “Não conseguimos vê-los, mas sabíamos que estavam a chegar por causa das nossas investigações, que estão a decorrer, que temos com a Camorra [grupo italiano de crime organizado]”, disse Napolitano. Cada cilindro de papel, com cerca de dois metros de altura e 1,40 de diâmetro, provavelmente fabricado na Alemanha, escondia cerca de 350 quilogramas de comprimidos.
A droga psicoestimulante Captagon, um dos nomes comerciais da fenetilina, é conhecida e difundida com o propósito de inibir o medo e a dor, causando um grande efeito de energia e euforia. Inicialmente produzida no Líbano e difundida na Arábia Saudita, nos anos 90, esta droga também foi usada por terroristas no ataque a Bataclan, em Paris, em 2015, tornando-se a “droga dos jihadistas”. Além de supostamente tomarem a droga, os radicais também podem estar a lucrar com a produção e o tráfico destes comprimidos, segundo o departamento das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).
“Sabe-se que o Daesh financia grande parte das suas atividades terroristas com o tráfico de drogas produzidas sobretudo na Síria, que se tornou o principal produtor mundial de anfetaminas nos últimos anos”, afirmou a polícia. “De acordo com a DEA (departamento norte-americano que investiga o tráfico de drogas), o Estado Islâmico faz um amplo uso desses medicamentos em todos os territórios sobre os quais exerce influência e controla sua venda”.
A polícia italiana acredita que as drogas eram destinadas à distribuição na Europa por vários grupos do crime organizado. “A hipótese é que, durante o confinamento, devido à emergência epidemiológica global, a produção e distribuição de drogas sintéticas na Europa praticamente parou e, por isso, muitos traficantes de diferentes grupos de crime organizado recorreram à Síria, onde parece não ter diminuído a produção”, disse ainda polícia italiana.
Gabriele Failla, chefe da polícia de Nápoles, acredita que vários grupos criminosos podem ter-se unido para comprar uma remessa enorme: normalmente os traficantes não enviam tantos comprimidos de uma só vez, porque é muito arriscado e nenhum grupo consegue lidar com tantas quantidades ao mesmo tempo.
Já há duas semanas, a mesma unidade de investigação de Nápoles, também identificou um contentor de roupas de contrafação que escondiam 2800 quilogramas de haxixe e 190 quilogramas de anfetaminas na forma de mais de um milhão de comprimidos com o carimbo Captagon. Estas duas intervenções ajudam a polícia a acreditar que estas substâncias tinham como principal destino a distribuição na Europa.