Peter Turchin é um cientista e investigador russo-americano, professor na Universidade de Connecticut, nos EUA, e um dos principais investigadores na área da cliodinâmica – um campo da ciência que identifica modos de comportamento na história de uma nação, através da análise da economia, da demografia, da geografia e da sociologia, recorrendo ao uso de modelos matemáticos e computacionais.
Em 2010, a revista Nature fez uma edição especial, para a qual convidou vários cientistas e investigadores para falarem sobre como se desenvolveria a década seguinte. Depois de rever esta compilação de opiniões Peter Turchin, nesse mesmo ano, desenvolveu uma análise, publicada também na Nature, em que previa que a instabilidade política e a violência iriam marcar a próxima década, principalmente a comunidade norte-americana.
Nesta análise, Turchin vai mais longe e refere que além de 2020 ser um ano conturbado, a instabilidade vai permanecer durante cinco, dez ou 15 anos, sem haver momento previsto para que exista um novo período de estabilidade. “Estes períodos de turbulência continuam até que as tendências estruturais que as conduzem sejam revertidas. Na história, normalmente duram cinco, dez, 15 anos. Então, espera-se que a turbulência continue depois do ano de 2020”, explica Peter depois de ter analisado as crises de 1820 e 1970, quando houve grandes picos de instabilidade, a que se seguiram anos de revolta.
“É provável que a próxima década seja um período de crescente instabilidade nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, o que pode debilitar o progresso científico que é descrito na coleção de Opiniões das ‘visões de 2020′”, começa por dizer o investigador. “A análise histórica quantitativa revela que as sociedades humanas complexas são afetadas por ondas recorrentes – e previsíveis – de instabilidade política”, continua.
“Nos Estados Unidos, temos os salários estagnados ou em declínio, um fosso crescente entre ricos e pobres, superprodução de jovens licenciados e uma explosão da dívida pública”, constata Peter. “Esses indicadores sociais aparentemente díspares estão realmente relacionados dinamicamente entre si”. Assim, o investigador explica que os picos de violência nos EUA ocorrem num ciclo de 50 anos e que o próximo pico seria este ano, 2020.
“Nos Estados Unidos, os picos de instabilidade de 50 anos ocorreram por volta de 1870, 1920 e 1970, então outro poderá ocorrer por volta de 2020. Também estamos a entrar na chamada onda Kondratiev, que traça o crescimento económico de 40 a 60 anos”. “Além disso, na próxima década haverá um rápido crescimento no número de pessoas na casa dos vinte anos, como o crescimento da juventude que acompanhou a turbulência das décadas de 1960 e 1970”, analisa o investigador, que conclui: “Todos estes ciclos parecem ter um pico por volta de 2020.”
Numa entrevista à Vice, no dia 30 de outubro de 2012, Peter Turchin explica a sua teoria e como esta afetará a dinâmica das sociedade. Nesta conversa, Peter destaca o ano de 2020, para além da instabilidade política, iria ser marcado pela violência. “Estudos históricos mostram que a sociedade passa por ciclos de violência a longo prazo: há um período calmo de aproximadamente um século, depois um período de violência ou agitação durante dez ou 15 anos”.
O investigador explica que existem vários tipos de violência. “Em primeiro lugar, existem ‘grupos dentro de grupos’, o que, no caso da América moderna, resultaria em tumultos. Depois, há “grupos contra indivíduos” (…). Por fim, existem “indivíduos contra grupos”, que é o que chamamos de assassinatos violentos. Assistimos, recentemente, a um aumento muito rápido deste último. É onde uma pessoa mata um grupo de pessoas sozinho, o que é essencialmente terrorismo, mas não é referido como tal porque se trata de violência americana sobre os americanos”.
Turchin explica como surge este ciclo de violência. “Historicamente, o problema surge de pessoas com poder e do aumento do número daquelas pessoas que querem mais poder”, começa por explicar. “Existem muitos políticos que estão a tentar obter poder e ficam frustrados, e é assim que as revoluções começam: quando os membros da elite tentam derrubar a ordem política para se adequarem melhor” conclui o investigador.
Alguns cientistas eram céticos a estas afirmações. Turchin adiantou já este ano, à Vice, que os colegas e políticos não acreditaram porque “as pessoas não entendiam que eu estava a fazer previsões científicas, não profecias”. “Além disso, não havia sinais de que nossas elites políticas estivessem prontas para tomar as medidas apropriadas para reverter estas tendências. E ainda não estão”, analisa o investigador. “A eleição de Donald Trump é um exemplo muito bom de um empreendedor político que canaliza um descontentamento em massa – há muitos exemplos históricos disso”, diz.
A nova crise que os EUA estão a viver surgiu depois da morte de George Floyd, no dia 25 maio, que desencadeou uma discussão sobre o racismo, sobre a violência policial e sobre os líderes que apoiam estes temas.
Reverter as tendências é um processo longo, diz Turchin, o que com a pandemia e a crise da Covi-19 ainda veio tornar a mudança mais demorada.