“Mais de um milhão de pedidos para o comício de Donald Trump em Tulsa no sábado.” Assim se vangloriava no Twitter Brad Parscale, o diretor de campanha do presidente dos EUA. Devido à intensa procura, os organizadores do evento montaram um palco no exterior para que Trump falasse à multidão que não teria espaço no centro de congressos da cidade do Estado de Oklahoma. Mas a multidão não apareceu. Nem um milhão, nem 500 mil, nem sequer 15 mil – o pavilhão, com capacidade para 19 mil pessoas, ficou muito longe de encher, com mais de 30% dos lugares a ficarem vazios.
O medo do coronavírus, que já matou cerca de 120 mil pessoas nos EUA, será uma das razões da pouca afluência da base de apoio de Donald Trump, que costuma aparecer em números avassaladores nos seus comícios (os espectadores tinham mesmo de assinar um documento à entrada a desresponsabilizar Trump em caso de infeção, o que não ajudou a criar confiança entre os apoiantes do Republicano). O facto de muitos acreditarem que ficariam à porta, devido à grande afluência esperada, não terá ajudado. Mas o que está a ser realçado pelos seus adversários políticos é a diferença entre as expectativas do presidente e a realidade.
A explicação parece estar nos utilizadores da rede de partilha de vídeos TikTok e em grupos de fãs de K-Pop (estilo de música nascido na Coreia do Sul, muito popular nos EUA). O New York Times escreve que foram partilhados vídeos, que tiveram milhões de visualizações, a apelar às pessoas para se inscreverem no evento, sem intenção de comparecer. “Oh não, inscrevi-me no comício de Trump e agora não posso ir”, ironizou uma utilizadora do TikTok. Muitos apagaram os apelos ao fim de um ou dois dias, para que a campanha do presidente, que tenta ser reeleito nas eleições de novembro, não se apercebesse da partida.
No sábado à noite, depois de se confirmar que a audiência ficou muito aquém do esperado, o Twitter encheu-se de gente a proclamar vitória. A congressista democrata Alexandria Ocasio-Cortez, uma das opositoras mais ferozes de Trump, foi uma delas. “Acabaram de levar uma lição de adolescentes do TikTok”, escreveu no Twitter, em resposta à afirmação de Brad Parscale de que o fracasso se devia a grupos radicais no exterior do pavilhão, que teriam impedido milhares de pessoas de entrarem. Houve efetivamente algumas escaramuças entre manifestantes pró e anti-Trump, mas nada de significativo, escreve a BBC.
O New York Times falou com uma das utilizadoras do TikTok que publicou um vídeo a incentivar a partida. “Recomendo a todos os que querem ver este auditório de 19 mil lugares meio cheio ou completamente vazio que reservem bilhetes já, e o deixem sozinho no palco”, apelou Mary Jo Laupp, do Iowa. No dia seguinte, viu, espantada, que o seu vídeo já tinha mais de 700 mil gostos e dois milhões de vizualizações. Pelos comentários no seu perfil, Mary Jo Laupp calcula que 17 mil pessoas que viram o seu vídeo solicitaram bilhetes para o comício, mas que outras pessoas com quem falou garantem que foram pedidos várias dezenas de milhares de ingressos.
Trump, que cancelou a presença no palco no exterior, falou durante 1h43. O momento mais surpreendente terá sido quando disse ter ordenado às autoridades de saúde que fizessem menos testes à Covid-19, porque “quanto mais testam, mais casos aparecem”. Um porta-voz da Casa Branca veio mais tarde dizer que o presidente estava a brincar.