Um grupo de investigadores do Instituto Karolinska, em Estocolmo, na Suécia, estão a estudar o comportamento viral de uma alpaca chamada Tyson, de 12 anos, da Alemanha.
“Percebemos, desde o início, que o SARS-CoV-2, que é o vírus causador da Covid-19, arriscava tornar-se numa pandemia grave. Também sabíamos que levaria muito tempo para desenvolver uma vacina e, portanto, precisávamos de medicamentos que pudessem retardar a progressão da doença, aliviar os sintomas e reduzir as fatalidades. Então, quando os investigadores chineses publicaram o código genético do vírus em janeiro, o meu colega de pós-doutoramento Leo Hanke e eu fomos para o laboratório clonar a proteína spike que funciona como uma espécie de chave para o vírus entrar em nossas células”, conta Gerald McInerney, professor de virologia no Instituto Karolinska, citado pela agência Reuters.
E é aqui que entra a alpaca Tyson: o animal foi imunizado com a proteína do vírus e a equipa de investigadores conseguiu isolar nanocorpos (anticorpos minúsculos) a partir do seu sangue, que se ligam precisamente à mesma parte do vírus do que os anticorpos humanos.
“Em fevereiro, injetamos essa proteína- não o coronavírus, mas apenas a proteína – numa alpaca, na Alemanha. Agora estamos à espera para ver se nossa alpaca desenvolve anticorpos contra essa proteína”, explica Hanke.
Apesar de ainda estar numa fase inicial, os cientistas esperam que esta forma de tratamento contra o vírus possa uma base para o tratamento. “Sabemos que estes são os anticorpos direcionados para a mesma parte muito precisa do vírus que são importantes e foi isso que criámos com esse anticorpo da Tyson”, disse Gerald McInerney, chefe da equipe de Karolinska. “Em princípio, tudo sugere que funcionará muito bem em humanos, mas é um sistema muito complexo”.
Sabe-se que os lamas e outros membros da família dos camelos – assim como os tubarões – produzem nanocorpos, que são muito menores que os anticorpos em tamanho natural produzidos por seres humanos e, portanto, potencialmente mais fáceis para os cientistas trabalharem. “Vamos agora avançar para estudos in vivo, talvez com camundongos [uma espécie de ratos], hamsters ou outros animais que possam ser usados como modelo para a doença de Covid-19, mas o próximo passo depois disso realmente não podemos prever”, disse McInerney. .
“Se conseguirmos, publicaremos os resultados num site aberto a todos, provavelmente depois do verão, para que as empresas farmacêuticas possam usar o resultados para desenvolver medicamentos antivirais para aqueles que estão doentes ou para os grupos de risco. Estes medicamentos podem fornecer imunização passiva, que é uma proteção de curto prazo contra a Covid-19, até que tenhamos uma vacina que ofereça imunidade a longo prazo “, explica Hanke.