Desde o início da pandemia que laboratórios e cientistas de todo o mundo focaram as suas experiências e estudos para conseguir encontrar um medicamento ou uma vacina para conseguir controlar o surto de Covid-19.
A Universidade de Oxford, depois de conseguir ser bem sucedida nas experiências laboratoriais, está, desde final de abril, na fase de realizar testes em humanos para comprovar a eficácia da vacina contra o novo vírus.
Ellie Cannon, médica de família e conhecida pelas suas opiniões em diferentes órgãos de comunicação social do Reino Unido, voluntariou-se para fazer parte desta experiência de testes clínicos e contou como foi num artigo publicado no site da Sky News.
“Estimulada pelo meu desejo de fazer algo prático para ajudar o esforço nacional nesta terrível situação em que todos nos encontramos (embora eu também esteja a trabalhar com clínica geral), inscrevi-me para participar no teste da vacina de Oxford”, conta a médica. “A vacina é a ChAdOx1 nCoV-19 e o estudo recrutará 10 mil pessoas para as testar durante um ano”.
“Eu inscrevi-me para fazer parte do estudo no University College London Hospital, mas existem muitos centros no Reino Unido onde as pessoas podem inscrever-se”, explica. “Depois de preencher algumas breves anotações sobre os antecedentes, fui informada de que tinha sido aceite e, em 48 horas, recebi um telefonema para marcar minha consulta”.
“Eu já sabia que a parte mais stressante seria andar de metro, pois não tive de o utilizar desde o inicio do confinamento. Mas tudo correu bem – embora eu tivesse ficado muito desapontada ao ver que era uma das poucas pessoas com o rosto coberto”, lamenta a médica. “Eu tinha de estar na minha consulta à hora marcada – eles não querem que as pessoas passem tempo desnecessário no hospital, para manter o distanciamento social. A minha temperatura foi verificada quando entrei e recebi um desinfetante para as mãos, antes de ser encaminhada ao ambulatório [parte do hospital onde se tratam os doentes que não precisam de estar acamados ou em internamento] para a triagem. Até aqui, tudo bem”.
“A consulta durou cerca de uma hora com um médico e uma enfermeira, que foram incrivelmente pacientes e amigáveis, por trás das máscaras – foi o contacto mais social que tive em semanas!”, conta ainda Ellie Cannon. “O processo começou com o consentimento em participar. Fui informada com muito cuidado sobre como o estudo funcionaria, os testes que eu teria de fazer e os possíveis efeitos colaterais, bem como o que fazer caso eu contraísse Covid-19 durante o processo ou me sentisse mal com a vacinação”.
“Senti que o processo foi muito bem explicado”, prossegue.”Tivemos uma conversa profunda sobre todos os aspetos do meu historial médico, e esta parte também foi demorada, pois é muito importante”. “Também foram realizados exames: um teste à urina para garantir que não estou grávida, altura e peso, pressão arterial, pulso e mais verificações de temperatura – tudo foi feito com muito desinfetante e lavagem das mãos” relata a médica.
“O último passo da consulta foi a colheita de sangue. A colheita é para um teste de para ver se eu já tive Covid e se tenho anticorpos conhecidos como IgG. Tanto quanto sei, nunca tive sintomas ou fiquei doente nos últimos meses, mas, se já tivesse anticorpos, não poderia continuar no estudo. Eles precisam de pessoas que não possuam anticorpos para começar, para que possam testar a resposta do corpo” explica.
O processo de Ellie Cannon ainda não acabou. “Irei receber os meus resultados dentro de alguns dias e, se não tiver anticorpos, na próxima semana voltarei à UCLH para a vacinação”. “Receberei a nova vacina ou o placebo, que é de uma vacina muito utilizada para meningite. Não serei informada, pois é o que é chamado de processo “cego”. De qualquer forma, é bom fazer parte do que poderia ser uma saída dessa pandemia”, conclui a médica.