Chama-se Gianna, está aos ombros do veterano dos San Antonio Spurs e, ao olhar em volta, nas ruas cheias de Minneapolis, exclama: “O meu pai mudou o mundo.” Stephen Jacskon, o antigo campeão da NBA, responde em seguida: “Isso mesmo, Gigi.”
A cena impressiona por si só. Mas mais ainda quando se sabe que foi gravada após a pequena se ter mostrado ao lado da mãe, Rosie Washington, a pedir justiça para a morte do pai, George Floyd. “Quero justiça porque ele era um homem bom. E há provas disso”, sublinhou, apontando para a menina, agarrada às suas pernas.
Já Gigi, como é carinhosamente tratada, assistia de semblante triste, mas calmo, às palavras empolgadas da mãe. “Agora nunca a verá crescer. Se ela tiver algum problema, não poderá contar com o pai.” Quando soube da morte do marido, não soube o que dizer à filha. Pouco depois, já a menina perguntava porque repetiam tanto o nome do pai na televisão.
Até que, finalmente, lhe perguntou como e porque é que o pai tinha morrido. Em lágrimas, seguiu-se a confissão: “Só tive coragem para lhe dizer que ‘ele não conseguia respirar’”. O desabafo final que se tornou símbolo de um mal-estar enorme na comunidade negra americana, vítima de racismo.
Afinal, aquelas foram as últimas palavras de George Floyd, um afroamericano de 46 anos que morreu no passado dia 25, depois de um polícia se ter ajoelhado sobre o seu pescoço durante quase nove minutos. Desde então o homem tornou-se mais um símbolo do protesto e justiça social – e ficará para sempre ligado a esse movimento contra o racismo chamado “Black Lives Matter”.
“Vou cuidar dela”
Mas Stephen Jackson, que tem estado ao lado da família desde que o amigo foi assassinado pela polícia, não levou só a menina em ombros naquele momento. Na mesma declaração pública, fez questão de tentar consolar um pouco a mãe de Gianna.
“Há uma série de momentos que ele vai perder, mas eu não. Vou levá-la ao altar. Vou estar presente sempre que for preciso. Até para vos secar as lágrimas. Porque estou aqui para obter justiça. E não me vou embora, vamos exigir justiça.”
No Instagram, o vídeo da menina em ombros tem já 1,7 milhões de visualizações – mas o que poderá fazer a diferença é o crowdfunding lançado pelo atleta e amigo da família. Da meta de 1, 5 milhões de dólares (qualquer coisa como €1,3 milhões), já foram reunidos mais de 1,2 milhões.
À NBC, o atleta explicou-se: “Desde a sua morte que não sou o mesmo. Era o meu irmão gémeo”. Eram amigos desde a juventude, no Texas.