Ainda não passaram duas semanas desde que a Nova Zelândia impôs um rigoroso bloqueio para combater o novo vírus. Não é permitido ir nadar na praia, nem caçar. As pessoas caminham e andam de bicicleta apenas nos seus bairros, permanecem a um metro e meio de distância enquanto aguardam a sua vez no supermercado e os alunos estudam em casa.
A abordagem da Nova Zelândia, um pequeno país insular com uma população de menos de 5 milhões de habitantes, para “eliminar” o vírus – em vez de “conter” – está a funcionar. O número de novos casos reportados tem vindo a diminuir – desde o dia 5 de abril que está a decrescer -, contabilizando apenas um morto e 317 recuperados. “Os sinais são promissores” confirma Ashley Bloomfield, diretor geral de Saúde da Nova Zelândia.
Estes resultados positivos poderiam dar margem para uma abertura nas medidas de isolamento social e contenção do vírus, mas a primeira-ministra Jacinta Ardern declarou que a Nova Zelândia deverá cumprir quatro semanas de isolamento – dois ciclos de incubação de 14 dias. Nesta quinta-feira, Ardern confirmou que iriam reforçar as restrições nas fronteiras, o que significa que todos os que chegam devem permanecer duas semanas de quarentena, não em casa, mas sim numa local definido pelo governo. Esta medida aplica-se apenas aos neozelandeses pois os estrangeiros foram proibidos de entrar no país desde o dia 20 de março. “Nesta altura, não hesito em dizer que o que os neozelandeses fizeram nas últimas duas semanas é enorme”, disse Ardern numa conferência de imprensa. Dirigiu-se aos neozelandeses elogiando o papel de cada um: “Você tomou a decisão de que juntos poderíamos proteger-nos uns aos outros. E cumpriu. Você salvou vidas.” “Mas como eu disse, isto vai ser uma maratona”.
Nesta luta contra o coronavírus, a Nova Zelândia teve duas vantagens: a localização geográfica e o tempo. No dia 28 de fevereiro, o país registou o primeiro caso de Covid-19, mais de um mês depois de os EUA terem contabilizado o primeiro caso. No dia 29 do mesmo mês, a Nova Zelândia confirmou um morto, que é único até agora. “Acho que tivemos um pouco mais de tempo para pensar sobre a pandemia e pudemos aprender com a experiência da China”, disse o professor Michael Baker, do Departamento de Saúde Pública da Universidade de Otago, segundo a CNN, que auxiliou o governo na sua atuação perante o vírus. A Nova Zelândia também teve a vantagem de ser uma ilha distante, com menos voos.
Mas a verdadeira ‘solução’ da Nova Zelândia tem sido a combinação da ciência com a liderança, declara Baker. Até o momento, a Nova Zelândia realizou mais de 50mil testes. No início desta semana, o Reino Unido – com cerca de 13 vezes mais pessoas que a Nova Zelândia – afirmou ter testado 208 837 pessoas. Baker confessa que ficou “realmente desapontado” com o fato de países como os EUA ou o Reino Unido, que têm mais conhecimento e recursos, não terem conseguido contornar a pandemia de outra forma.
Quando Ardern anunciou, a 14 de março, que todos os entrassem no país tinham de cumprir o isolamento social durante duas semanas, o país tinha confirmado seis casos. No dia 19 de março, a primeira-ministra proibiu a entrada de estrangeiros no país e contabilizou 28 casos confirmados. E no dia 23 de março, anunciou que o país estava em confinamento, havia 102 casos confirmados e mais nenhuma morte.
Outra vantagem da Nova Zelândia é que 25% dos contaminados e casos prováveis, são jovens dos 20 aos 29 anos, enquanto dos 30 aos 39 representam 15 por cento. Vários países apresentam uma taxa de mortalidade por Covid-19 muito maior em pacientes idosos do que em pacientes mais jovens. Pouco mais de 40% dos casos da Nova Zelândia estão relacionados a viagens ao exterior, isto é, muitos jovens voltaram para a Nova Zelândia depois de Ardern ter anunciado as restrições nas fronteiras. Baker confirma que “as pessoas que viajam geralmente são mais saudáveis do que a maioria das outras pessoas. Sabemos que o risco de mortalidade é muito maior em populações mais velhas e em pessoas com condições cronicas e estas tendem a viajar menos”, afirmou. “Os resultados positivos até agora na Nova Zelândia são os casos nas faixas etárias mais jovens e relativamente saudáveis”.
A primeira-ministra confessa que não pretende suspender o bloqueio e que até pode precisar de o prolongar. “Se nos movermos muito cedo, retrocedemos”, disse ela. Caso este plano A falhe, a Nova Zelândia tem um plano B, confirma Baker, que envolve a preparação do sistema nacional de saúde para um grande número de pessoas gravemente infetadas. “Estaremos no mesmo barco que a maioria dos países que adotaram a abordagem de supressão – aguardaremos as vacinas e os anti-virais”.