Há dias emocionámo-nos com as imagens de um pai que ensinou a filha a rir quando ouve o som de bombas. Sempre que se fazem ouvir explosões por perto, os dois largam ruidosas gargalhadas. A cena passa-se num dos abrigos erguidos junto à fronteira com a Turquia. Aos nossos olhos, soa a uma espécie de pausa na guerra. Mas, para quem aguarda um final feliz não há ali qualquer alívio. No vídeo publicado nas redes sociais, vemos Abdullah Mohammad a filha Salwa, de três anos, a rir ao som dos bombardeios. Como contou o homem, foi a forma que encontrou de a proteger, dizendo-lhe que o barulho das bombas faz parte de um jogo.
Esta quinta-feira, os ataques soaram de novo forte e feio e voltaram a matar. As baixas, mais de 30, foram todos do lado do exército turco. Por esclarecer está a origem do ataque. Tanto podem ter sido as forças de Bashar al-Assad como militares russos, aliados da Síria. Perante o cenário , o presidente da Turquia, Recep Erdogan, já convocou uma reunião de emergência sobre a segurança na região.
Desde o início da intervenção da Turquia no conflito, é a maior baixa num só dia. Ao todo, neste mês de fevereiro, são já perto de 43 os soldados turcos mortos em Idlib, números da Associated Press. Ao que avança a agência noticiosa turca, o país já ripostou.
“A pior história de horror do século XXI”
Em causa está uma província, colada à fronteira com a Turquia, que acolhe quase um milhão de sírios fugidos de suas casas. É só o maior êxodo de pessoas desde o início da guerra no país, há nove anos. No início da semana, já tinham sido atingidas duas escolas e jardins de infância que abrigavam algumas famílias. Três hospitais apoiados pelos Médicos Sem Fronteiras contam que receberam 185 feridos; metade deles eram mulheres e crianças. Outras 18 pessoas chegaram já sem vida.
O coordenador responsável pelos MSF na zona, Cristian Reynders, não se conforma: “Quantas mães vão continuar a segurar os bebés nos braços enquanto bombas caem por toda parte? Quantos pais precisam tranquilizar seus filhos – fazê-los rir – quando há explosões em todos os lugares? Quantos? Quantas? É essa a realidade”. Mark Lowcok, vice-secretário das Nações Unidas para os assuntos humanitários, não tem dúvidas: “é a pior história de horror do século XXI.”
