Há 30 novos centros de acomodação ativados, e mais de 15 mil pessoas foram realocadas depois de as chuvas dos últimos dias terem provocado mais inundações no Buzi, em Nhamatanda, na Gorongosa, no Maringue, em Caia e em Cheringoma. A cidade da Beira, desta vez, parece ter escapado incólume, numa altura em que continuam em força os esforços de recuperação de infraestruturas afetadas pelo ciclone Idai.
Os dados foram revelados pelo Instituto Nacional de Gestão de Catástrofes, e dão conta de que 71 070 pessoas, representando 14 319 lares, deverão ter sido afetadas pelas chuvas torrenciais que caíram entre os dias 10 e 15 de fevereiro na região. No mesmo sentido, a instituição revela que Nhamatanda – onde foram montados alguns campos de reassentamento após o Idai, um dos quais estava sob gestão da delegação portuguesa da Médicos do Mundo – foi o distrito mais afetado, com mais de 26 mil pessoas a precisar de apoio.
Escolas e Igrejas voltam a ser abrigo
As escolas e as Igrejas continuam a funcionar como as principais estruturas de apoio em caso de emergência, e tornaram-se novamente casa das famílias a quem a natureza parece não querer dar tréguas nos próximos tempos.
Entretanto, recentemente um representante do Fundo Monetário Internacional esteve em Moçambique em reuniões com o Executivo de Filipe Nyusi, e numa declaração oficial congratulou-se pela evolução da recuperação do país após o Idai e o ciclone Kenneth – que atingiu a região de Cabo Delgado. Só que enquanto a economia dá sinais de recuperação, os problemas estruturais parecem manter-se, com várias estruturas a ceder à força das intempéries e a chuva a atrasar as obras necessárias.
Ao longo das últimas semanas o mau tempo tem tornado intransitáveis várias estradas, destruído pontes e até as condutas que levam água potável até à capital do país já foram afetadas. As empresas de obras públicas desdobram-se em esforços, numa altura em que as necessidades parecem não parar aumentar.
Por outro lado, o preço dos alimentos também não dá sinais de querer estagnar ou mesmo reduzir – desde o ciclone Idai que não foi possível ainda fazer uma colheita, e a de março, que seria a primeira desde a tempestade, está em risco devido ao mau tempo.
A falta de oferta deverá continuar a pressionar o preço dos alimentos, e a agravar o cenário de carência alimentar que já se faz sentir na região há meses e que, segundo a Rede dos Sistemas de Aviso Prévio contra a Fome (FEWS NET, na sigla em inglês), não mostra qualquer alteração nos últimos dois a três meses
Dados da mesma organização revelam que até ao final do mês passado já tinham morrido 45 pessoas nesta época das chuvas, e que outras 68 mil tinham sido de alguma forma afetadas pelas intempéries. Foram registados vários danos em pontes, escolas, centros de saúde e redes elétricas e ficaram submersas várias áreas cultivadas que seriam essenciais para a reposição do nível de alimentos. Várias organizações não governamentais continuam, por essa razão, no terreno, a tentar dar resposta às principais necessidades de uma população que, um ano após o Idai, continua a lutar contra o clima.
Segundo relatos divulgados pela imprensa moçambicana, muitas famílias voltaram a perder o pouco que tinham conseguido recuperar desde o Idai, e passaram a noite em cima dos telhados [que resistiram] de casas totalmente inundadas. “A colheita de milho que tínhamos era boa. Agora acabou”, referia uma das afetadas ao canal Miramar, revelando que perdeu toda a cultura de março, que serviria para alimentar a família nos próximos meses. Ficou, pelo relato das populações, novamente claro que os sistemas de alerta, ainda que melhorados, continuam a não funcionar em pleno, deixando várias famílias sem qualquer aviso de que se aproximava o mau tempo. Exatamente como aconteceu há um ano.