“Precisamos de cerca de 900 milhões de dólares” (pouco mais de 800 milhões de euros), afirmou Daviz Simango, presidente da câmara da Beira, durante um evento em Lisboa, esta terça-feira, 28 de janeiro. “Até agora conseguimos angariar perto de um terço do valor, o que é muito bom. Mas precisamos de mais”, pediu o responsável num encontro da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, e citado pela agência Lusa. Recorde-se que recentemente o governo português, através do Instituto Camões, alocou 1,9 milhões de euros a cinco projetos que visam a reconstrução das zonas afetadas pelos ciclones Idai e Kenneth, que no ano passado destruíram as zonas centro e norte de Moçambique.
O responsável da Beira admitiu que a contribuição portuguesa já foi bastante elevada, e que dificilmente o País poderá doar o capital em falta, mas pediu que as autoridades ajudassem a pedir apoio junto de outros Estados-membros e das instituições internacionais, como o Banco Europeu de Investimento. Uma espécie de “padrinho” que facilite as relações e que permita chegar aos montantes necessários.
Recorde-se que o valor total para a reconstrução dos estragos provocados pelo Idai deve ascender a 3 mil mihões de dólares, segundo as autoridades revelaram há uns meses.
A levantar-se do chão
Passados mais de dez meses após o Idai ter tocado a costa moçambicana, o processo de reconstrução da Beira ainda está mais atrasado do que seria desejável. As várias organizações humanitárias que estiveram no terreno assim que foi possível ativar as fases de emergência foram fundamentais para a realocação e primeira assistência às mais de um milhão de pessoas afetadas, mas o clima não tem dado muitas tréguas ao território. Depois de uma seca severa, a época das chuvas recomeçou em novembro, e até agora já provocou 45 mortes – algumas delas na zona da Beira, cidade que voltou a inundar no início de dezembro.
A precipitação tem dificultado também o acesso a alimentação, num país onde a agricultura garante o sustento e as refeições da maioria das famílias. Há centenas de milhares de pessoas em risco de insegurança alimentar nos próximos meses, tal como a VISÃO tem dado conta. As primeiras colheitas, previstas para março, deveriam reduzir significativamente as necessidades, mas os ventos e chuvas constantes estão a colocar em risco as tão necessárias primeiras provisões que seriam retiradas da terra um ano após o Idai. Os preços dos alimentos têm estado a aumentar, à medida que as provisões diminuem e as ajudas escasseiam.
Em Cabo Delgado, onde o Kenneth chegou apenas seis semanas depois do ciclone Idai, a situação não é muito melhor: à falta de comida e de abrigo, junta-se ainda a violência, que há mais de dois anos tem provocado milhares de deslocados internos, centenas de mortes e necessidades muito elevadas de alimentos e de suplementos para combater a malnutrição infantil. O mau tempo destruiu, entretanto, a ponte sobre o rio Montepuez, o que deixou 9 distritos de Cabo Delgado isolados, agravando ainda mais a chegada de ajuda a zonas já bastante carenciadas.
ONG portuguesas de mangas arregaçadas
Entretanto, o financiamento de 1,9 milhões de euros permitiu que 11 organizações não-governamentais portuguesas se mantivessem em Moçambique com cinco novos projetos nas áreas da saúde, educação e segurança alimentar. São programas que se juntam às atividades que as ONG já estavam a desenvolver no terreno, e que tentam mitigar as necessidades que, ao contrário do que se possa esperar, têm vindo a aumentar com o passar do tempo.
A VISÃO tem mantido o contacto com vários coordenadores de projetos das ONG portuguesas a trabalhar em Moçambique, e todos são unânimes na necessidade de continuar a recolher donativos para a reconstrução pós-ciclones, numa altura em que o número de desalojados a viver em campos de reassentamento não consegue baixar. Há milhares de famílias a continuar a precisar de apoio, enquanto as autoridades tardam em reconstruir as principais infra-estruturas nas novas comunidades que têm que ser criadas em lugares mais seguros e menos permeáveis aos caprichos da natureza.
No mesmo sentido, os responsáveis pelos vários projetos lamentam o tanto que ainda há para fazer, quando parece que passou o tempo suficiente para já não dever ser precisa qualquer intervenção externa.