“Faltam 100 segundos para a meia-noite.” Foi assim que Racheal Bronson, presidente do Bulletin of The Atomic Scientists , anunciou quinta-feira em Washington D.C. o estado de emergência que a humanidade enfrenta. “É o mais próximo do Fim do Mundo que já estivemos na história do Relógio do Juízo Final. Agora enfrentamos uma verdadeira emergência – um estado absolutamente inaceitável dos assuntos mundiais que elimina qualquer margem de erro ou atraso”, acrescentou.
Depois de, em 2018, os ponteiros do relógio terem sido adiantados para a marca das 23:58 e assim permanecerem em 2019, agora o Conselho de Ciência e Segurança do Bulletin of The Atomic Scientists veio confirmar que o Relógio do Juízo Final está a apenas 100 segundos do “fim” da vida na Terra. Este anúncio – uma metáfora do apocalipse global – dá conta dos grandes perigos que a humanidade enfrenta neste momento: a escalada nuclear, marcada pela recente rescisão de alguns dos acordos mais importantes para travar a corrida às armas, as alterações climáticas, que apesar de terem entrado para o discurso político traduzem-se numa posição de inércia governativa e, finalmente, as novas tecnologias de desinformação, que atentam contra a paz e a segurança mundial são fatores cada vez mais preocupantes para a comunidade internacional.
“A humanidade continua a enfrentar dois perigos existenciais simultâneos: a guerra nuclear e as mudanças climáticas – agravados por um multiplicador de ameaças e informações potenciadas por uma ciberguerra – que limita a capacidade resposta da sociedade”, pode ler-se na declaração apresentada por um grupo de cientistas do Conselho de Ciência e Segurança.” A situação da segurança internacional é terrível, não apenas porque essas ameaças existem, mas porque os líderes mundiais permitiram que a infraestrutura política internacional se deteriorasse”, conclui o mesmo documento.
Ban Ki-moon, ex-secretário da ONU deixou também o alerta: “Partilhamos uma preocupação comum sobre o fracasso do sistema multilateral em lidar com as ameaças existenciais que enfrentamos. Desde a retirada dos EUA do Acordo de Paris e do Acordo Nuclear do Irão até ao impasse nas negociações e divisão do desarmamento nuclear no Conselho de Segurança da ONU – os nossos mecanismos de colaboração estão a ser prejudicados quando mais precisamos deles”.
A ex-presidente da Irlanda e ex-alta comissária dos Direitos Humanos da ONU, Mary Robinson, descreveu este anúncio como uma “ocasião solene” e aproveitou para apelar à união dos principais líderes mundiais: “Agora é a hora de nos reunirmos – de nos unirmos e agirmos”, rematou.
O icónico Relógio do Juízo Final, que simboliza os perigos mais graves que a humanidade enfrenta, está agora mais perto do fim do prazo de validade da vida humana do que em qualquer outro momento desde a sua criação em 1947, durante aquela que foi a maior ameaça nuclear da história: a Guerra Fria . Originalmente, o relógio foi projetado para lançar alertas nucleares. No entanto, a partir de 2007 esses alertas estendem-se a outras ameaças emergentes, como manipulações genéticas, biotecnologia e inteligência artificial. Em dezembro de 2020 será assinalado o 75º aniversário da primeira edição do Bulletin of The Atomic Scientists .