Apoiantes do partido xiita pró-iraniano, cada vez mais visíveis nas ruas, ficaram indignados com as palavras de ordem destinadas ao seu líder, Hassan Nasrallah, assim como a outros dirigentes e carregaram sobre manifestantes agrupados na praça Riad el-Solh.
As informações são da Al-Jazeera e foram confirmadas à VISÃO por Rui Fernandes, um sacerdote jesuíta que vive no em Beirute desde o ano passado e que tem acompanhado as manifestações praticamente desde que começaram.
Ao nono dia de manifestações, Hassan Nasrallah falou ao povo numa mensagem transmitida pela televisão, e mostrou-se absolutamente contra a queda do governo, que está a ser pedida por milhares de pessoas nas ruas. “Não aceitamos a queda da nossa presidência, nem a resignação do governo, e não aceitamos, nestas condições, eleições antecipadas”, fez saber o líder religioso mais emblemático do país. O responsável soltou ainda um “Deus impeça” uma guerra civil no Líbano, palavras que têm como principal objetivo dissuadir os cidadãos de continuarem nas ruas.
Nasrallah especulou ainda sobre o facto de as manifestações terem sido “sequestradas” nos últimos dias por interesses que “não são apenas um movimento popular”, o que terá provocado um aumento de contestação entre os manifestantes.
“Estamos a ouvir as tuas palavras” foi a resposta dos apoiantes daquele que é o mais poderoso partido político libanês.
No final desta sexta-feira, 25 de outubro, as ruas de Beirute continuavam “cheias de manifestantes que insistem no refrão “todos, é mesmo para e de todos”. Significa que os partidos não se deviam intrometer” na luta, explica Rui Fernandes.
“O risco principal, neste momento, é uma derrapagem violenta que abra caminho à repressão governamental e ao reforço dos partidos xiitas armados, nomeadamente o Hezbollah, que continua a apoiar o presidente libanês e que é um instrumento da estratégia regional dos Guardas Revolucionários iranianos”, antecipava Carlos Gaspar, professor do Instituto Português de Relações Internacionais, em declarações à VISÃO na tarde desta quinta-feira.
O líder do Hezbollah aproveitou o seu discurso desta sexta-feira para elogiar as medidas anunciadas no início da semana pelo primeiro-ministro libanês, que incluem o corte dos salários e benefícios dos políticos e funcionários públicos e uma reforma da política energética pública. No entanto, as promessas não foram suficientes para acalmar a indignação das ruas.
Recorde-se que o início dos protestos se deu após o conselho de ministros ter anunciado a intenção de taxar as chamadas gratuitas dos serviços de mensagens pela Internet, como o WhatsApp.
*com Lusa