“Quis que se estabelecessem cá porque era a coisa certa a fazer.” Quem fala assim é Jim Estill, 62 anos, empresário de uma pequena cidade de Ontário, no Canadá que, há já quatro anos, pôs mãos à obra. Na altura, o governo canadiano até tinha montado um esquema oficial para acolher pessoas que fugiam da tenebrosa guerra na Síria, mas Jim estava muito frustrado com o tempo que os processos demoravam. “Não me parecia que as autoridades ocidentais estivesse a agir com a rapidez que a situação exigia”, repete, citado pela BBC.
Assim, socorreu-se de algo como 1 milhão de euros para trazer um grupo pessoas do Médio Oriente para a sua Guelph natal, a cerca de 100 quilómetros de Toronto – tudo graças a um outro programa, introduzido há mais de 40 anos, para ajudar pessoas que escapavam da Guerra do Vietname. O objetivo é permitir que cidadãos do país recebam refugiados, comprometendo-se a cobrir as despesas dos recém-chegados durante um ano.
Ao todo, chegaram 50 famílias sírias a uma localidade com pouco mais de 135 mil pessoas. Alguns ficaram na casa de Jim, outros em igrejas e outros abrigos. Além disso, reuniu 800 voluntários locais e passou a trabalhar em estreita colaboração com a sociedade islâmica local.
Para ajudar, houve quem libertasse quartos de hóspedes ou mesmo apartamentos que estavam meio vazios. O Exército da Salvação assumiu a liderança na recolha de roupas doadas para que aguentassem os rigorosos invernos do país. Ao mesmo tempo, Jim providenciava para que cada família tivesse um mentor que soubesse árabe e inglês, para os ajudar a matricular os filhos nas escolas, procurar emprego, abrir contas bancárias…
Mas Jim foi ainda mais longe e empregou 28 das pessoas na sua empresa – Danby, especialista em eletrodomésticos – que fatura, anualmente, perto de 350 milhões de euros. Tornou-se ainda fiador do negócio de outros, que abriram diferentes empreendimentos comerciais na cidade. Ao todo, acabou por ajudar mais de 300 pessoas, como Ahmad Abed, que fugiu da sua Homs natal em 2016, depois de ser atingido por estilhaços de uma bomba. “Graças ao Sr. Estill, e ao programa de patrocínio, Guelph é minha nova casa”, anima-se ele, antes de contar que a mulher também abriu o seu negócio, uma loja de meias no centro da cidade.
“O que faço como CEO da minha empresa é construir sistemas e processos. Apliquei à integração dos refugiados o mesmo que faço na minha empresa: organizo para que tudo possa funcionar bem”, relata. “E faço ainda o possível para ajudar os outros a realizaram bem o seu trabalho.”
Os elogios não tardaram: “Fez as pessoas saíram da sua zona de conforto e abrirem os olhos para o que está a acontecer no mundo”, comentou o autarca local, Cam Guthrie – ao que se seguiu a medalha da Ordem do Canadá, a mais alta condecoração civil do país. Jim garante que não é nada disso que o move. A história, claro, acabou também por ser apontada como exemplo maior pela Agência das Nações Unidas para os Refugiados.
“Estas famílias querem apenas ser felizes, como todos nós. Quem um futuro sem medo nem violência”, salienta Jim, antes de rematar: “Nós temos obrigação de as receber, já que 99 por cento dos canadianos também são imigrantes.”