Se um Trump pode incomodar muita gente, uma dúzia deles pode incomodar muito mais. É com base nesta suspeita que os responsáveis do protocolo britânico tentam minimizar os eventuais deslizes que podem ocorrer entre hoje, 3 de junho, e a próxima quarta-feira à tarde, quando termina a primeira visita oficial do Presidente dos EUA ao Reino Unido. É que o antigo rei do imobiliário de Nova Iorque decidiu fazer-se acompanhar nesta deslocação pela mulher, Melania, e ainda por quatro dos seus cinco filhos e respetivas caras-metade – deixando apenas para trás, em Washington, o seu caçula, Barron, de 13 anos, curiosamente conhecido por ser discreto e adepto do Arsenal de Londres. Esta numerosa comitiva representa um verdadeiro pesadelo logístico e de segurança, com a família presidencial interessada em privar com Isabel II e demais realeza, na expetativa – pouco provável – de tirar algumas selfies que possam depois ser emolduradas para imortalizar a ocasião.
A visita, antes de começar a sério, ficou logo marcada pela inata tendência do patriarca para o disparate diplomático. Quando ainda lhe preparavam as malas na Casa Branca, Donald Trump decidiu dar duas entrevistas a jornais ingleses e, como de costume, disse o que não devia. Em primeiro lugar, ao tablóide The Sun, propriedade do seu amigo Rupert Murdoch, decidiu interferir na campanha em curso para a liderança dos conservadores e admitiu sem problemas que Boris Johnson daria um excelente substituto de Theresa May e iria “fazer um grande trabalho” como primeiro-ministro. Ao ser interrogado sobre Meghan Markle, a mulher do príncipe Harry que nunca escondeu a sua antipatia pelo 45º Presidente dos EUA, acusando-o de ser “misógino”, Trump devolveu o mimo chamando-lhe “mázinha” (“nasty”), mas tentou depois desfazer a indelicadeza admitindo que é ótimo haver “uma princesa americana”.
Quanto à conversa que teve com o Sunday Times, aproveitou para revelar uma vez mais o seu desprezo pela União Europeia e sugerir que Nigel Farage, o líder do Brexit Party, deveria negociar o divórcio entre Bruxelas e Londres – obviamente sem qualquer cedência à UE. E na eventualidade de haver eleições antecipadas nas ilhas britânicas, e de uma possível vitória dos Trabalhistas de Jeremy Corbyn, reconheceu que isso poderia por em causa a “relação especial” entre os dois países e não exclui a hipótese de dar ordem aos serviços secretos americanos para que não partilhem informações classificadas com os seus congéneres deste lado do Atlântico. Um autêntico manual antidiplomático.
Falta saber como se vão comportar os Trump nas próximas horas, tendo em conta os desafios que têm pela frente. Será Donald capaz de cumprir horários e as regras que lhe foram definidas para estar ao lado da rainha? Será que vai conter-se quando lhe perguntarem o que pensa de Corbyn, de Sadiq Khan (presidente da câmara de Londres) e das outras personalidades que declinaram o convite para estar no banquete, desta noite, no palácio de Buckingham? Será que vai novamente dizer que Londres e os outros Governos europeus têm de boicotar a chinesa Haiwei e impedi-la de participar nas redes 5G? Que esperar da sua presença, esta quarta-feira, em Portsmouth, nas cerimónias oficiais do 75º aniversário do D-Day (o desembarque na Normandia)?
Questões que a monarca britânica terá colocado seguramente a si própria nas últimas semanas e meses. No entanto, com a fleuma dos seus 93 anos, ela saberá com certeza lidar com qualquer imponderável, graças à sua experiência com 13 presidentes dos EUA.
O que se segue é uma fotogaleria com imagens e momentos históricos partilhados entre Isabel II e os ocupantes da Casa Branca em quase sete décadas.