Não é uma batalha cromática, mas não há dúvidas de que a cor ganhou significado. Os “coletes amarelos” franceses têm agora pela frente os “lenços vermelhos”.
Se os primeiros se manifestam desde meados de novembro contra as políticas francesas impostas pelo presidente Emmanuel Macron, os segundos estão saturados da violência que semana após semana acontece em várias cidades do país.
Ontem, os “lenços e cachecóis” vermelhos saíram à rua pela primeira vez. Cerca de 10500 pessoas, de acordo com os números da polícia local, desfilaram pelas ruas de Paris sob o tema “Marcha republicana da liberdade” em protesto contra a violência perpetrada pelos “coletes amarelos”.
No dia anterior, sábado, cerca de quatro mil “coletes amarelos” tinham, mais uma vez – a 11ª consecutiva – andado pelas ruas da capital francesa (69 mil no país todo) para reivindicarem novas políticas.
Assim, em resposta aos carros incendiados, às montras partidas e pilhagens e ao vandalismo que têm caracterizado as manifestações dos “coletes amarelos”, um grupo heterogéneo saiu à rua com “lenços vermelhos” para condenar a violência de alguns dos que se vestem de “amarelo” e que já utilizaram palavras e gestos anti-semitas, ataques a jornalistas franceses e, até, uma tentativa de invadir um edifício do governo.
“As reivindicações dos ‘coletes amarelos’ são legítimas, mas têm de ser feitas de forma pacífica”, refere Christine Gaillard, 55 anos, enfermeira citada pelo The Washington Post.
Christine diz-se aterrorizada com as imagens que tem visto desde que o movimento começou, “Sou imigrante. Deixei o meu país à procura de paz. Se não houver paz aqui para onde é que vou? Esta violência assusta mais os imigrantes do que os franceses”, acrescentou.
Apesar de concordar com algumas queixas, como salários mais altos, por exemplo, a reformada Olivette Lourenço, 66 anos, saiu para a rua de lenço vermelho. “É a primeira vez na vida que estou num protesto. Simplesmente, não concordo com os hooligans que andam apenas a atacar Paris, a cidade mais bonita do mundo”, explica.
“Dizem-nos que os hooligans são os marginais que entraram no movimento [dos coletes amarelos], mas quando vejo os coletes amarelos a apoiar o que ele fazem fico revoltada”, diz.