Uma mansão com dezenas de quartos. Piscinas luxuosas. Garagem para cem carros. Quatro heliportos. Restaurantes temáticos. Serviços médicos a qualquer hora.
Isto não é a descrição de um qualquer anúncio de venda de uma propriedade, mas sim o que faz parte do “banal” mês de férias que o rei da Arábia Saudita costuma passar na zona de Tânger, em Marrocos.
Salman bin Abdul-Aziz, de 82 anos, viaja com mil pessoas, entre convidados e empregados, e fica hospedado num palácio que comprou há alguns anos.
Mas como a mansão não chega para todos, são, também, alugados 800 quatros em hotéis de luxo e cerca de 170 carros de gama alta.
É assim que viaja o rei Salman, sempre com um séquito e sempre de forma sumptuosa, onde até se inclui uma escada rolante banhada a ouro para descer do avião.
Durante três anos, Tânger recebeu a comitiva de forma irrepreensível, e a injeção de dinheiro nos cofres de todos era um alívio para o resto do ano.
Se pensarmos que cada quarto custa entre €200 e €400 por dia, ou seja €240 mil euros em diárias e que o aluguer das viaturas ronda os €170 mil euros também por dia, é fácil de fazer as contas. A isto somam-se refeições nos restaurantes, gorjetas avultadas, múltiplas massagens em spas, serviços de jardinagem e uma enorme quantidade de outros gastos diários que incluem noitadas em discotecas e bares de striptease.
Pois este ano, os habitantes de Tânger estão preocupados: é que o rei Salman não vai passar o seu habitual mês de férias ali. A explicação prende-se com razões políticas, nomeadamente o agudizar das relações diplomáticas entre a Arábia Saudita e Marrocos, depois de Riade – com a ajuda dos Emirados Árabes Unidos e do Bahrein – ter rompido relações com o Qatar com acusações de proteção e promoção do terrorismo. A Arábia Saudita pensou que Marrocos se uniria ao embargo, mas tal não aconteceu. Desde então, as relações esfriaram.
Agora, com milhões de euros que deixam de entrar na parca economia de Tânger, os locais estão preocupados com este golpe monetário.
Trono na varanda
O rei Salman viaja sempre em grande. Quando, em finais de 2017, foi, pela primeira vez à Rússia, levou uma comitiva de 1 500 pessoas. Para quatro dias levou a própria mobília e reservou dois hotéis inteiros para a comitiva, Ritz Carlton e o Four Seasons de Moscovo, onde até alguns empregados foram substituídos por outros do staff do rei. Aliás, a comida foi uma das preocupações. Houve uma ponte aérea entre Riade e Moscovo só para levar alimentos.
Nem sempre as coisas correm bem. Em 2015, as férias na Riviera Francesa levantaram uma onda de protestos quando uma praia foi encerrada só para Salman.
As cerca de mil pessoas que com ele viajaram ficaram, mais uma vez, instaladas em hotéis de luxo em Cannes e o monarca pediu que fosse instalado um trono numa das varandas do palácio onde estava para que pudesse desfrutar da vista da Côte d’Azur.