Só no ano passado, morreram no Brasil 184 pessoas vítimas de picadas de escorpião, segundo os dados do Ministério da Saúde. Em 2013, tinham sido 70, o que significa que o número mais do duplicou em apenas quatro anos e que os escorpiões já ultrapassaram as cobras no topo do ranking de animais venenosos que mais matam no país. O número total de picadas, por seu lado, aumentou 60%, para mais de 125 mil em 2017.
Os potencialmente letais aracnídeos alimentam-se de insetos mas podem sobreviver durante longos períodos sem comer nem beber e estão a adaptar-se à vida nas cidades. No caso das mais pequenas, a falta de antídoto está a revelar-se um problema, que ganhou atenção mediática na semana passada, depois da morte de uma menina de quatro anos no estado de São Paulo, o mais afetado, a par de Minas Gerais.
Há quatro espécies perigosas de escorpiões no Brasil, mas a principal preocupação é com o Tityus serrulatus, ou escorpião amarelo, que vive tradicionalmente em habitats de savana, mas conseguiu adaptar-se a viver em esgotos e entre lixo nas áreas urbanas. E como nesta espécie a fêmea não precisa da fertilização do macho para se reproduzir e as baratas (que abundam tanto junto a lixo como nos esgotos) fazem parte da sua alimentação… estão reunidas as condições para a situação piorar.
Nisso mesmo acredita Rogério Bertani, investigador e especialista em escorpiões do Instituto Butantan, na cidade de São Paulo, que explica que, neste momento, “o contacto com seres humanos é muito grande”. “Estes escorpiões têm um metabolismo lento e podem passar vários meses sem se alimentarem”.
Em declarações aos meios de comunicação brasileiros, o veterinário José Brites Neto, que lidera uma equipa de quatro homens que só este ano já capturou cerca de 8 mil escorpiões, numa espécie de caçadas noturnas com recurso a luzes ultra-violetas, não é mais tranquilizador: “Esta espécia é dominadora, colonizadora e muito adaptável.”