Na próxima segunda-feira, 26, os militantes da União Democrata-Cristã (CDU) vão estar reunidos em Berlim, num congresso onde é suposto votarem no futuro secretário geral do partido que governa a Alemanha desde há 12 anos. Trata-se de uma mera formalidade porque já se sabe quem vai ocupar o cargo: Anne Kramp-Karrenbauer, 55 anos, casada e mãe de três filhos, uma católica praticante que, desde 2011, lidera o länder do Sarre (pequeno estado germânico que faz fronteira com a França).
A escolha desta política centrista que já liderou executivos regionais com a presença de ecologistas, liberais e social-democratas, tem uma forte carga simbólica por ser apadrinhada pela mulher mais poderosa da Europa, Angela Merkel.
“Conhecemo-nos há muito tempo e confiamos uma na outra”, explicou esta semana a chanceler, refererindo-se à sua potencial sucessora – a quem analistas e militantes da CDU chamam também “AKK”, “mini-Merkel” e “Merkel do Sarre”.
Quando os jornalistas lhe perguntaram se esta nomeação era já uma passagem de testemunho político, a chanceler foi irónica: “É um privilégio vosso estarem sempre três passos à frente das outras pessoas… Nós temos as mãos ocupadas a gerir os assuntos quotidianos”. Foi uma forma de não fazer comentários sobre as polémicas que dividem o partido. Alguns correlegionários acusam-na de viragem à esquerda e de ter feitas demasiadas cedências aos sociais-democratas do SPD para garantir uma nova coligação. Mas Merkel pode resolver o assunto de forma salomónica. Basta-lhe oferecer pastas ministeriais à ala mais conservadora da CDU, em particular a Jens Spahn, 37 anos, o ambicioso secretário estado das Finanças e antigo colaborador de Wolfgang Schäuble.
À espera do SPD
A não ser que haja ainda um golpe de teatro do SPD. É que os 463 mil militantes sociais-democratas começaram esta terça-feira (20 de fevereiro) a votar sobre o “contrato de coligação” e o resultado só será conhecido a 4 de março.
Na eventualidade de dizerem “não”, ninguém sabe muito bem o que pode acontecer. Voltarão os dois partidos a renegociar? Haverá eleições antecipadas, algo que Merkel rejeita?
A nova coqueluche da política alemã, Kevin Kuehnert, 28 anos, o mediático líder das juventudes do SPD, tem apelado aos seus pares para que não façam o jogo da “Rainha da Europa” – entenda-se Angela Merkel. O problema é que ele continua sem apresentar grandes soluções para este imbróglio.
Uma sondagem feita pelo Instituto Insa e publicada pelo tablóide Bild demonstra que o SPD continua a cair nas intenções de voto e que, caso houvesse uma nova ida às urnas obteria apenas 15,5%. E sobretudo ficaria atrás dos populistas do AfD (Alternativa para a Alemanha).