Dores de cabeça, náuseas, perda de audição e desequilíbrios foram alguns dos sintomas que os diplomatas americanos na capital cubana começaram a relatar ainda no final de 2016 e que os Estados Unidos atribuíram a ataques com emissão de sons não audíveis pelo ouvido humano.
Os EUA retiraram a grande parte do pessoal das suas embaixadas em Havana e expulsaram de Washington a maioria dos diplomatas cubanos, mas os casos acabaram por ficar sem explicação.
Agora, o The Guardian falou com alguns neurologistas “experientes” que sugerem que os sintomas misteriosos podem ter sido, afinal, consequência de uma forma de “histeria coletiva”. Sublinhando que não é possível fazer um diagnóstico correto sem mais informações ou acesso às 22 vítimas do alegado ataque sónico, os especialistas ouvidos pelo jornal britânico dizem que deve ser considerada a hipótese de em causa estar uma “desordem funcional” devida a “um problema no funcionamento do sistema nervoso”.
“De um ponto de vista objetivo, é mais parecido com histeria coletiva do que com outra coisa”, defende Mark Hallett, responsável pelo departamento de controlo motor do Instituto Nacional norte-americano para os Distúrbios Neurológicos e Derrames.
“Histeria coletiva” ou “histeria em massa” é o termo comum usado para surtos entre grupos de pessoas que são total ou parcialmente psicossomáticos. E, se for o caso, não há razão para vergonha: “A doença psicossomática é uma doença como outra qualquer, Não deve ser estigmatizada”, enfatiza, acrescentando que “sintomas como estes não são voluntários” nem “um sinal de fraqueza”.
Apesar de ser mais comum encontrar casos destes em grupos mais pequenos, não é impossível acontecerem em grupos maiores, sobretudo em se tratando de indivíduos que trabalham juntos num ambiente tenso e hostil.
“Estas pessoas estão todas juntas num ambiente de certa forma ansioso e isso é exatamente o tipo de situação que precipita algo como isto. A ansiedade pode ser um dos fatores críticos”, explica.
O neuropsiquiatra Alan Carson, ex-presidente da Associação Britânica de Neuropsiquiatria, adianta, por seu lado, que, normalmente, há um “gatilho”, um problema relativamente inespecífico ou ligeiro que pode até ser uma lesão física de menor importância. “Mas depois uma combinação de ansiedade e também convicção e expectativa distorcem o sentimento”.
“Se já uma expectativa suficientemente forte de que alguma coisa vai acontecer, isso vai distorcer toda a forma real da informação que chega”, acrescenta o especialista.