Um CD com um programa político musicado, apresentado como um álbum de um cantor. Chocolates a mensagem “aprecie o seu candidato”. Bicicletas a oferecer gelados em copinhos de um partido. Na Alemanha, às portas da eleição parlamentar no próximo domingo, dia 24, são estas as novas armas para chamar a atenção dos eleitores em Berlim.
Tim Renner trabalhou na indústria da música até que decidiu entrar na política alemã com uma estratégia de marketing radicalmente diferente: vender-se como uma pop star. Como candidato a deputado pela SPD (o partido centro esquerda alemão liderado por Martin Schultz), ele tornou-se uma espécie de enfant terrible da política alemã com uma missão: revolucionar a forma como os partidos tradicionais se apresentam ao seu eleitorado.
Calças de ganga e ténis, corte de cabelo da moda, fala informalmente enquanto bebe um chá sentado em cima da sua mesa, no seu “quartel general” – um pequeno apartamento por cima de um teatro especializado em comédia.
Renner tem um passado tudo menos convencional entre os políticos alemães – vem da indústria da música, onde foi artista, manager de várias bandas e mesmo CEO da Universal Music na Alemanha. Em 2014 foi convidado para ser secretário de estado na capital política alemã com a pasta dos assuntos culturais e foi a primeira vez que se viu nestas andanças. Até que foi desafiado a avançar em nome próprio como candidato a um mandato direto no Bundestag, o parlamento nacional, pelo SPD no círculo de Charlottenburg-Wilmersdorf, Berlim, e decidiu avançar.
“Só estava na política há pouco mais de três anos e de repente vi-me na situação de ter de me vender aos berlinenes. Sei bem como fazer o marketing de um músico ou de uma banda, mas não fazia a menor ideia de como vender um político – e isso acabou por ser uma enorme vantagem”, explica a um grupo de jornalistas estrangeiros a cobrir as eleições alemãs.
A sua tese é clara: os partidos tradicionais, como o próprio SPD, são “entediantes e chatos”. “As pessoas estão fartas do discurso tradicional dos políticos. A ideia é surpreendê-las e, pelo menos, arrancar-lhes um sorriso. E isso é meio caminho andado para quererem conhecer-nos melhor”, afirma.
“Os programas dos partidos são impossíveis de ler. Estão bem feitos e têm muitas coisas boas, mas é mais ou menos como na música: são bons álbuns sem um único hit. E isso não funciona!”
A sua aposta é, claro, nas redes sociais, com muitos diretos no Facebook e Instagram Stories, além de vídeos editados por bons publicitários e não marketeers políticos. Está mesmo disposto a pisar a linha e quebrar as normas para dar nas vistas: sexta-feira à noite prepara-se para colar cartazes gigantes com a sua cara nas janelas das lojas vazias da cidade. “Sei que isso não é legal, mas na segunda-feira vamos retirar todos os cartazes – se eu não estiver preso entretanto”, graceja.
Algo que o partido SPD, por si, obviamente nunca faria. “O problema é que as pessoas destes partidos do centro parece que são tão velhas como os próprios partidos [centenários]. E isso está a afastar os eleitores para os partidos das franjas, com figuras carismáticas e com uma comunicação muito melhor e mais fácil de entender”, continua Tim Renner.
Se se confirmarem as últimas sondagens regionais, a estratégia de Renner leva vantagem: está 50% à frente do candidato aos mandatos diretos (que são metade dos lugares do parlamento alemão, a restante metade é eleita pelas listas dos partidos) pelo principal partido concorrente, a CDU, o partido de Angela Merkel que será com elevada probabilidade o partido mais votado nestas eleições.
Se resultar, Tim Renner quer copiar a sua estratégia de comunicação mais “atrevida” para o partido SPD a nível nacional. “Este é o caminho para os partidos do centro: é preciso trazer emoção para a comunicação. É necessário começar a falar como pessoas normais, reduzir as mensagens de forma a surgir com um perfil mais claro e ter uma visão para o futuro”.
Se os eleitores vão na sua cantiga, será esperar para ver os resultados no domingo.