“Estive sete anos detido sem acusação, enquanto os meus filhos cresceram e o meu nome foi caluniado.” Foi assim que Julian Assange começou por se dirigir aos apoiantes e jornalistas que o esperavam junto da Embaixada do Equador, no centro de Londres, depois da Procuradoria-Geral sueca ter vindo a público explicar porque decidiu pelo arquivamento da investigação que sobre ele recaía: a de uma alegada violação de uma cidadã sueca.
“Não perdoo, nem esqueço”, realçou, até porque considera que tudo isto não passa de um ardil para que haja uma extradição para os Estados Unidos, onde é acusado de espionagem, por ter revelado milhares de documentos confidencias e de índole militar. “Hoje, esta decisão foi uma importante vitória para mim”, disse, adiantando, contudo, que “a verdadeira guerra só agora começa”. Lamentou mesmo que “a detenção e a extradição sem acusação” se tenha tornado “uma característica da União Europeia”.
O fundador do WikiLeaks considerou ainda ser “extremamente lamentável” continuar sob ameaça de prisão por parte das autoridades britânicas, caso saia da embaixada do Equador, razão pelo qual os seus advogados estudavam a hipótese de um pedido de asilo político a França.
Mas no discurso que proferiu a partir da varanda da embaixada disse que, por enquanto, ali permanecerá, e será a partir dali que continuará, com o apoio dos seus advogados, a dialogar com autoridades britânicas e americanas. Com as primeiras, quer perceber até que ponto lhes foi imposta uma obrigação de extradição. Com as segundas, pretende que lhe sejam reconhecidos os seus direitos como jornalista.
Considerando-se vítima de “uma terrível injustiça”, Assange assume haver ainda “um longo caminho a percorrer” até recuperar a sua total liberdade. No entanto, também prometeu que o seu site WikiLeaks continuará a distribuir e divulgar material sobre as atividades da CIA nos Estados Unidos, apontando mesmo para uma aceleração das publicações.
Suécia pode reabrir processo até 2020
Ao início da tarde, a Procuradoria Geral da Suécia, em Estocolmo, veio explicar, em conferência de imprensa, que o arquivamento da investigação a Julian Assange não tem implícita qualquer conclusão sobre a sua culpa ou inocência relativamente á suspeita de violação de uma cidadã sueca. A procuradora Marianne Ny acabou por assumir que este arquivamento se deveu á falta de perspetivas de vir a conseguir a extradição de Assange, que sempre se tem esquivado a receber notificações judiciais, num processo iniciado em 2010. Nos últimos cinco, o homem da WikiLeaks refugiou-se na embaixada do Equador em Londres.
“A minha avaliação é de que a transferência não pode ser realizada num futuro previsível”, disse Marianne, pelo que optou igualmente por levantar também o mandado de detenção europeu. “Neste momento, todas as possibilidades de conduzir a investigação estão esgotadas. Para prosseguir com o caso, Julian Assange teria de ser formalmente notificado das suspeitas contra ele. E não podemos esperar ajuda do Equador relativamente a isso. A investigação é por essa razão descontinuada”, lê-se no documento da Procuradoria, entretanto divulgado pela agência Lusa.
Face á legislação sueca, uma investigação criminal tem de ser concluída com a maior brevidade possível, pelo que os prazos limites estavam a esgotar-se. E quando assim é, o processo tem de ser obrigatoriamente arquivado até novos dados.
Assange, claro, agradeceu depois ao Equador toda a cobertura que lhe tem dado e a forma como a embaixada o tem acolhido, apesar de todas as pressões a que tem sido sujeita para que não o fizesse.