Assassinos. Pedófilos. Violadores. Ladrões. Burlões. Todos estão em igualdade de circunstâncias para poderem entrar no combate que lhes pode devolver a liberdade. O sistema prisional tailandês desenvolveu em 2012 um programa de reabilitação através das artes marciais e que dá aos reclusos a possibilidade de lutarem para ser livres, independentemente do crime que cometeram – e desde que estejam a cumprir uma pena de longa duração.
Noy Khaopan, condenado a 11 anos de prisão por apunhalar na cabeça um estudante do ensino secundário, em 2010, teve essa sorte. Enquanto cumpria a pena na prisão de Ayutthaya, a 80 quilómetros de Banquecoque, capital da Tailândia, inscreveu-se no programa “Prison Fight”. Derrotou todos os adversários no torneio de Muay Thai – o desporto rei naquele país – e ganhou assim o passaporte para sair da cadeia.
De acordo com o site oficial do Prison Fight, o torneio está orientado para dar aos presos “um objetivo, uma esperança”. O programa quer promover “o desporto e uma condição física saudável entre os reclusos”: “O desporto dentro das paredes das prisões pode minimizar problemas internos como o abuso de drogas e comportamentos violentos. A reabilitação dá aos presos disciplina e ajuda-os a serem focados, organizados e motivados.”
Por norma, o programa consiste em cinco combates. Na final, o adversário do recluso vencedor é um lutador profissional de Muay Thai. O lutador do Kansas Cody Moberly, por exemplo, perdeu o combate para Noy Khaopan, condenado por homicídio. “Toda a gente pensava que eu iria ganhar”, disse ao documentário “Prison Fighters: 5 rounds to Freedom” (“Lutadores na prisão: 5 rounds para a liberdade” VEJA EM BAIXO). Também o lutador britânico Arran Burton perdeu no ringue para outro recluso: Chalernpol Sawangsuk. Dave Leduc, lutador profissional canadiano, fez esta observação: “Eles não lutam por dinheiro, lutam pela sua liberdade. Eu só luto pela honra e pela glória.”
O mais difícil é contar à família das vítimas que o homem que, por exemplo, matou o seu filho, o seu irmão ou o seu marido vai sair em liberdade mais cedo do que todos pensavam. “Quando contámos aos pais do adolescente [que o Noy Khaopan ia sair em liberdade], o pai queria matar o Noy. A mãe estava inconsolável. Não pensam que seja justo libertá-lo”, comentou o criador do documentário produzido pela Showtime Sports.
Contra todas as polémicas, as autoridades asiáticas argumentam que o Muay Thai na Tailândia é visto como uma religião e que os reclusos merecem uma segunda oportunidade. Alegam ainda que problemas internos das suas prisões como o consumo de drogas e os comportamentos violentos diminuíram consideravelmente desde que o programa foi criado.