Tornou-se uma das mais vocais forças da direita ultraconservadora (“alternative right”) americana, associada à supremacia branca. Milo Yiannopoulos tem 32 anos, é inglês, homossexual e vive mergulhado na polémica. Era, até ontem, editor do site Breitbart News, que esteve antes sob a alçada de Steve Bannon, principal responsável pela estratégia da administração Trump. Entre declarações homofóbicas (sim, leu bem – homofóbicas, apesar de Milo ser gay), misóginas e anti-islão, Yiannopoulos irrita cada vez mais gente, ao ponto de gerar acesos protestos universitários. Aqui estão algumas das maiores controvérsias protagonizadas por uma voz improvável do movimento ultraconservador.
– A gravação é antiga, mas a polémica recente. Após ter sido desenterrado um podcast em que Milo afirma que “algumas relações em que homens mais velhos ajudam jovens rapazes a descobrir quem são, dão-lhes segurança, amor e suporte quando não podem falar com os seus pais”, começaram a surgir as acusações de defesa da pedofilia. Mas não ficou por aqui. Ainda acrescentou que está grato pela sua relação com um padre, sem o qual “nunca teria aprendido a fazer sexo oral tão bem”. Mesmo com a eventual explicação de Yiannopoulos (garante que foi mal interpretado e que a pedofilia é algo “nojento”), o caso escalou de tal forma que o seu discurso na Conferência da Ação Política Conservadora, que decorre até sábado, foi cancelado. Para a editora Simon & Schuster, que já tinha aguentado duras críticas por parte de outros autores por albergar Yiannopoulos entre os seus escritores, a controvérsia destas declarações foi a gota de água. A editora optou por cancelar o lançamento do livro Dangerous (perigoso), de Yiannopoulos, que sairia a 13 de junho.
– Onde Milo vai, os ânimos incendeiam-se. No dia 1 de fevereiro, teve de cancelar um discurso na Universidade da Califórnia, devido ao protesto organizado por mais de 1500 alunos que causou cerca de cem mil euros em estragos, segundo a universidade. Desse grupo, mais de uma centena foi responsável por partir janelas, atear fogos e envolver-se em confrontos com a polícia. As consequências (além de uma publicação de Yiannopoulos a criticar a esquerda por “se aterrorizar com a liberdade de expressão e tentar tudo para a reprimir”) chegaram depressa. Pela manhã do dia seguinte, os EUA acordaram com um novo tweet de cunho presidencial. Trump ameaçava que “se a Universidade da Califórnia não permite o discurso livre e pratica a violência sobre pessoas inocentes com pontos de vista diferentes”, pode arriscar-se a perder o financiamento federal.
– Yiannopoulos começou como blogger e ascendeu até à posição de editor sénior da Breitbart News em 2015. Foi já com este cargo, do qual se demitiu, esta terça-feira na sequência do escândalo, que se viu banido do Twitter, em julho do ano passado, após ter incitado os seus seguidores ao discurso de ódio contra a atriz negra Leslie Jones, membro do elenco do filme Caça-Fantasmas. A rede social afirmou em comunicado que, apesar da liberdade para expressar diferentes opiniões, “ninguém merece ser sujeito a um abuso online direcionado”, e que a sua política proíbe o incitamento do ódio e abuso de outros. Antes de ser expulso do Twitter, ainda conseguiu deixar outra marca – cunhou a hashtag #FeminismIsCancer (“feminismo é cancro”), que, entre denúncias e apoios, continua ativa na rede social. E a marca notoriamente antifeminista de Yiannopoulos saltou para o “mundo real”. Hillary Clinton, durante a campanha presidencial, chegou a criticar colunas escritas pelo inglês sobre o tema.
– Mesmo no seio da discórdia que cultiva, Yiannopoulos consegue encontrar algumas pontes com a esquerda americana. Numa presença recente no programa de Bill Maher, um apresentador de esquerda assumidamente democrata, o provocador profissional viu uma posição sua validada pelo anfitrião. Para Maher, “os liberais mordem sempre o isco” no que toca às reações politicamente corretas. O motivo? A audiência tinha acabado de reagir a uma piada de Yiannopoulos sobre quem contratava para trabalhar na Breitbart News. “Não se pode confiar neles [homossexuais] para aparecerem a horas no trabalho. Demasiadas drogas, demasiado sexo, inventam desculpas… Não são tão maus como as mulheres, mas não contrato gays.” É uma declaração quase inócua quando comparada com um dos textos escritos por Milo para a Breitbart: “Os direitos gays tornaram-nos mais burros – está na hora de voltar para o armário”.
A posição sénior no site, frequentemente criticado por propagar notícias falsas, oferece a Yiannopoulos um pódio adequado. Um dos seus artigos defende que se elimine o “lobby transsexual autoritário” até os transsexuais se “portarem bem como nós”. Noutro, intitulado “10 coisas que o Milo odeia no Islão”, afirma mesmo que, se fizer bem o seu trabalho, espera que lhe seja declarada uma fatwa (geralmente interpretada como uma sentença de morte) pela fé islâmica.
O desafiador considera-se um “troll virtuoso” (troll como alguém, na internet, que tenta instigar reações com comentários ofensivos). Mas a sua aura incólume no movimento ultraconservador pode estar prestes a sofrer um duro golpe. É que até dentro da Breitbart as fileiras se começavam a alinhar contra Yiannopoulos, após ser acusado de defender a pedofilia. Charlie Gasparino, jornalista na estação televisiva Fox News (a preferida de Trump), afirmou que já existe dentro da organização quem esteja disposto a demitir-se caso Milo continuasse.