Com 69 anos recém–cumpridos, Marcelo Crivella é um criacionista que já acusou católicos e fiéis do Candomblé de adorarem o Diabo. Ordenado sacerdote da IURD há mais de três décadas, é um polémico profissional da política que conta com 14 discos de gospel que já venderam mais de cinco milhões de cópias
Servidor favorito
“Sou carioca, nascido no Botafogo, filho de pais católicos de sangue italiano. Comecei a trabalhar aos quatorze anos como auxiliar de escritório, para pagar a minha faculdade de engenharia. Fiquei também oito anos no exército, me formei engenheiro, fui professor universitário, taxista e servidor público.“ Assim se descreve Marcelo Crivella, no breve currículo que colocou no seu site oficial de campanha para se tornar o próximo presidente da Câmara do Rio de Janeiro, cujas eleições (segunda volta) se realizaram no último domingo, 30 de outubro.
Marcelo contra Marcelo
Nas eleições do último domingo, o seu adversário à prefeitura da Cidade Maravilhosa era Marcelo Freixo, de 49 anos. Este último, ex-militante do PT e atual candidato do Partido Socialismo e Liberdade, inspirou a personagem do professor Diogo Fraga no filme Tropa de Elite, devido à sua luta pelos direitos humanos – a qual lhe valeu inúmeras ameaças e a morte de um irmão e de um guarda-costas. Freixo e Crivella representam dois modelos políticos e sociais antagónicos, com o segundo a merecer o apoio quase unânime do centro-direita.
Discípulo de Edir
A carreira política de Crivella foi longamente preparada pelo seu tio e mentor religioso, o Bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus (em 1977) e um dos homens mais ricos do Brasil.
Aliado de Lula
Em 2002 Crivella lança-se nas lides políticas e, ao serviço do Partido Liberal, torna-se no primeiro líder evangélico a conquistar o cargo de senador no Brasil, com mais de 3 milhões de votos. Um feito só possível graças às alianças que este movimento fez com o PT para Lula da Silva chegar à presidência. O bispo e missionário da IURD que passou uma década em África e no sertão nordestino, vestia fato e gravata e mudava-se para Brasília.
Moderado radical
Desde a sua entrada no Congresso que Crivella tem sido acusado de proselitismo. Ele nega, sublinha a sua independência da IURD e diz que “há dois anos” que não fala com Edir Macedo. Mas o seu currículo contra o aborto, os outros credos religiosos ou os direitos das mulheres e dos negros perseguem–no, apesar dos esforços para se apresentar como um moderado e de contar com o apoio da máquina de propaganda da TV Record, adquirida por Macedo há quase três décadas. A realidade e as estatísticas falam por si. Em 1986, o Congresso tinha 18 deputados evangélicos. Em 2002, esse número passou para 60. Agora, ascende a 199, mais quatro senadores. Em 2040, o Brasil deverá ter mais evangélicos do que católicos.