Só querem o que todos os meninos querem: brincar, ter os pais por perto, ter amigos, ir à escola. Mas o país onde nasceram não lhes garante a paz e nem sequer a sobrevivência. Obriga-os a fugir sem perspetivas, sem garantias, sem pais.
A Unicef – o Fundo das Nações Unidas para a Infância – veio alertar para os números verdadeiramente chocantes que este ano se verificaram de bebés, crianças e jovens refugiados que chegaram sozinhos à costa Italiana.
Ainda estamos a mais de dois meses do final do ano e já chegaram mais crianças a Itália do que em todo o ano passado. O número de crianças ainda não é certo mas mais de 90% chegaram sem companhia ou separadas da família. Embora a maioria venha da África Ocidental, este ano aumentou o número de meninos vindos do Egito.
Ainda na manhã desta terça-feira, 18, “três recém-nascidos, duas crianças que nasceram em barcos da guarda costeira italiana no Mediterrâneo Central e uma terceira que nasceu num porto estão entre as mais recentes chegadas de crianças refugiadas e migrantes a Itália”, diz a UNICEF.
As equipas deste organismo que estão no terreno reportam uma realidade cada vez mais desesperante e que piora com um sistema de proteção infantil nacional cada vez mais sobrecarregado.
Os números
144 mil pessoas refugiaram-se em Itália desde o inicio do ano (o valor foi contabilizado a 12 de Outubro pelas autoridades italianas)
Mais de 20 mil crianças não acompanhadas e separadas das suas famílias chegaram por mar a Itália entre Janeiro e Outubro deste ano (de acordo com a Organização Internacional para as Migrações e a Agencia da ONU para os Refugiados)
Mais de 16 mil crianças refugiaram-se em Itália em 2015 e mais de 12 mil chegaram sem qualquer acompanhamento ou separadas da família
Mais de 3 mil pessoas morreram afogadas ao tentar atravessar o Mediterrâneo só nos primeiros 9 meses deste ano
Quase 4 milhões de crianças refugiadas não têm acesso à educação
Sabrina Avakian é especialista de proteção infantil da UNICEF e está neste momento na Calábria a fazer um levantamento das necessidades das crianças refugiadas e migrantes, em particular das recém-chegadas.
Sobre a situação que encontrou diz: “Todas as semanas centenas de crianças chegam aqui, cada uma delas com necessidades muito urgentes, desde recém-nascidos frágeis a adolescentes que viajam sozinhos e que não fazem a menor ideia do que esperar num país estrangeiro”.
Sabrina Avakianm reporta ainda os traumas da viagem – “assistiram a afogamentos, algumas têm terríveis queimaduras químicas causadas pelo combustível das embarcações, os bebés e as suas mães precisam de cuidados específicos no aleitamento, e todos eles precisam de proteção adequada e alojamento” – e reforça que o processo está a demorar demasiado tempo.
Se muitos chegam sem a família, outros nem essa difícil sorte podem ter. De entre as mais de 3.100 pessoas que escapam ao salvamento e morrem no mar, muitas são crianças (embora o número ainda não seja conhecido). Foi o caso dos dois filhos de três e quatro anos de uma mulher nigeriana que atravessou o Mediterrâneo vinda da Líbia e que não consegue recuperar-se do choque.
A UNICEF estabeleceu espaços amigos das crianças destinados aos mais pequenos em barcos da guarda costeira italiana enquanto uma equipa da agência das Nações Unidas está a prestar apoio psicológico a jovens rapazes e raparigas em terra.
A Organização mostra-se preocupada e deixa a garantia de estar a trabalhar com vários parceiros no sentido de de acelerar a nomeação de tutores e para melhorar as condições de receção para as crianças.
A situação que vivem estes meninos e meninas vai contra os principais artigos da Convenção sobre os Direitos da Criança, dos quais se destacam quatro diretos fundamentais básicos: os direitos à sobrevivência (como o direito a cuidados adequados), os direitos relativos ao desenvolvimento (como o direito à educação), os direitos relativos à proteção (como o direito de ser protegida contra a exploração) e os direitos de participação (como o direito de exprimir a sua própria opinião).