O “estado de exceção e emergência económica”, em vigor desde fevereiro, deverá manter-se pelo menos nos próximos três meses, com o presidente, Nicolás Maduro, a falar em ameaças à soberania nacional. Mas, no meio da crise económica e política, o que tem dado que falar nos últimos dias é o anúncio feito pela empresa mexicana Coca-Cola Femsa, que está na Venezuela desde 2003: os stocks de açúcar para uso industrial esgotaram e a produção será paralisada. Coca-Cola só mesmo da light.
A suspensão tem um prazo indeterminado. Segundo o porta-voz da empresa, Kerry Tessler, os produtores de açúcar informaram que “deixaram temporariamente as suas operações por causa da carência de matérias-primas”. Eles não estão a mentir, mas, mais do que a falta de fertilizantes, a verdadeira razão para a falta de cana de açúcar é que os agricultores têm investido noutros produtos por causa do controle de preços estabelecido pelo Governo.
Na Venezuela não falta apenas açúcar para uso industrial. Há filas para os alimentos racionados e a inflação, que neste momento é uma das mais altas do mundo (este ano deverá ultrapassar os 700 por cento), faz com que produtos básicos como o leite, o arroz ou o café sejam vendidos a preços exorbitantes. Também é comum não haver eletricidade ou a água ser racionada.
Aos repórteres da Globo, o gerente de um hotel em Caracas, o brasileiro Gustavo Jarussi, mostrou como até na cozinha os pratos são preparados na penumbra. O prédio não tem luz entre as 9 da manhã e as 6 da tarde, e existe um único elevador a funcionar, para os hóspedes. “Estamos com, praticamente, 80% desses hotéis parados por causa dessa questão de energia”, contou. “Só 2% tem gerador para o hotel completo.”
A crise económica arrasta-se no país há dois anos. Fala-se em epidemia de fome e morre-se nos corredores dos hospitais por falta de remédios ou equipamentos. Mais de 70% da população vive na pobreza, a tensão social é crescente e a criminalidade disparou. Apesar de herdeiro do chavismo, Nicolás Maduro não está nas boas graças dos venezuelanos.
A Rússia, entretanto, mostrou-se preocupada com o que se passa na Venezuela, e está pronta a ajudá-la a superar a crise política. Segundo um comunicado do Ministério de Negócios Estrangeiros russo, Moscovo diz que são bem-vindos os esforços de vários políticos que buscam um meio-termo para as várias forças políticas.
“O desenrolar da situação na Venezuela é preocupante. No pano de fundo de uma situação económica complexa, a luta política está, uma vez mais, a ameaçar tornar-se violenta. Infelizmente, a escalada está a ser alimentada pelo lado de fora”, diz o texto do Ministério. “Esperamos que tais esforços tragam resultados positivos. Estamos prontos para juntarmo-nos a esses esforços, se necessário.”