A mulher síria, grávida de nove meses, descreve as condições do campo de acolhimento em que se encontra, na localidade grega de Idomeni, junto à fronteira, encerrada, com a Macedónia: “Dormimos no chão. Os nossos cobertores estão ensopados com água. Não há casas de banho. É por tudo isto que as pessoas aqui vão adoecendo.”
O depoimento faz parte de um relatório agora divulgado pela Amnistia Internacional (AI), após a organização ter verificado no terreno a situação de mais de 46 mil refugiados e migrantes que considera “encurralados” na Grécia continental. Mas o foco mediático foi tomado pelo acordo UE-Turquia, segundo o qual por cada migrante chegado ilegalmente à Grécia e que for devolvido à Turquia, os Estados-membros aceitam um refugiado sírio diretamente da Turquia.
E é, precisamente, por todos os olhos estarem postos na concretização dessa “regra do um-por-um”, que a AI receia que as dezenas de milhares de refugiados e migrantes que se encontram espalhados pela Grécia continental acabem esquecidos. “A decisão de fechar a rota dos Balcãs deixou toda esta multidão de refugiados e migrantes em condições horríveis e num estado permanente de medo e incerteza”, diz John Dalhuisen, diretor da AI para a Europa e Ásia Central.
A maioria destas pessoas tem a esperança de seguir viagem a caminho de países do Norte e Centro da Europa, para se reunir a familiares que já lá vivem. Mas a informação que lhes chega, sobre as opções que têm, é cada vez mais escassa desde o encerramento da fronteira com a Macedónia, a 7 de março.
‘QUEREM QUE ACABEMOS AQUI MORTOS?’
“Porque não nos deixam partir?”, pergunta um casal de 70 anos, fugido de Aleppo, na Síria, e que também está no campo de Idomeni. “Passamos frio e vivemos uns em cima dos outros. Eles querem que acabemos aqui mortos?”
No campo de Elliniko, instalado num aeroporto desativado, nos arredores de Atenas, os investigadores da AI encontraram uma situação sanitária deplorável. No porto de Pireu, na capital grega, cerca de cinco mil refugiados e migrantes amontoam-se num campo informal, recebendo apenas alguma ajuda de voluntários, pequenas ONG’s e das autoridades portuárias.
Em todos os 31 campos existem mulheres que vivem no terror de serem sexualmente molestadas, e a AI descobriu também crianças entregues a si próprias, que a polícia recolhera há já 15 dias, e que aguardavam em esquadras a transferência para instituições especializadas.
Apesar da significativa ajuda da UE à Grécia, a AI encontrou campos de acolhimento de refugiados e migrantes sobrelotados, onde faltam comida e condições sanitárias básicas. “Se os líderes da UE não agirem com urgência, cumprindo as suas promessas de acolhimento e de melhoria da situação destas pessoas, vão confrontar-se com um desastre humanitário”, avisa John Dalhuisen. “E só se podem culpar a si próprios.”