Bernie Sanders promete nada menos do que uma “revolução política” se for eleito. O senador pelo Vermont quer “confrontar Wall Sreet e a classe dos bilionários”. Instaurar um salário mínimo nacional. Tornar a educação publica gratuita. Investir maciçamente num programa de 1 bilião de dólares para renovar as decadentes infraestruturas americanas. Denunciar os acordos de livre comércio, como a Nafta ou o TTP (a parceria Trans-Pacífico) e acabar com a deslocalização da indústria para a China. Sanders começaria provavelmente por Wall Street e os bilionários. O antigo mayor de Burlington – a “república popular de Burlington”, como era apelidada em 1984 a cidade onde iniciou a sua carreira política – pretende repor uma lei de 1934, a glass-steagall, que, depois da depressão de 1929, obrigou à separação da banca de investimento e de depósitos. E também quer criar um imposto. Mas a sua medida mais emblemática seria a taxa sobre a especulação na bolsa norte-americana, que considera responsável pela crise de 2008. Seria um pequeno imposto – 0,5% de cada transação – com o potencial de arrecadar cerca de 50 mil milhões por ano.
Este instrumento não seria novo – trata-se da taxa Tobin, ou da taxa Robin Hood. E teria como objectivo arrecadar receita para os programas sociais de Sanders e não, apenas, refrear a especulação. Mas poderia reduzir o valor do mercado bolsista, pelo menos das ações mais transacionadas: nota o Wall Street Journal que, quando a Suécia tentou impor uma taxa semelhante, de 1%, sobre as transações, em 1983, o resultado foi uma queda de 5,3 % nesse ano na bolsa de Estocolmo. Quando lhe perguntam se tudo isto quer dizer que ele quer fazer da América uma outra Escandinávia – um espécie de pecado, aos olhos conservadores – ele costuma responder com um simples “é isso mesmo”. Se as coisas lhe corressem como deseja, os americanos teriam um salário mínimo universal, para o setor público e privado, de 15 dólares por hora em 2020, a educação nas universidades públicas seria gratuita e mesmo nas privadas os juros dos empréstimos a estudantes seriam reduzidos substancialmente. O seu programa de obras públicas criaria 13 milhões de empregos, e tudo isto seria feito sem afetar a saúde da economia americana. Ah, e ainda daria férias pagas a todos os trabalhadores. E é aqui que Hillary Clinton mais o desafia, apresentando-se como a candidata do “realismo” e do “pragmatismo”, por oposição ao “idealismo” ou até à inexequibilidade das suas propostas. Terá razão? Convém lembrar que Sanders tem estado quase sempre do lado certo da história: votou contra as guerras do Iraque e do Afeganistão, mas a favor da intervenção da Nato nos Balcãs. Defendeu sempre o casamento gay como um questão que deveria ser decidida pelos interessados. Votou contra o Patriot Act, a polémica lei de Bush que expandiu os poderes de vigilância da NSA. Em nenhum destes casos pode Hillary dizer o mesmo.
Esta é uma das razões para alguns dizerem que Sanders na Casa Branca não é de todo impossível. Nate Silver, do blogue 538, afirma que talvez nem os superdelegados, que representam os interesses estabelecidos dos grandes quadros do partido, salvem Clinton da “onda” Bernie. E as sondagens do Nevada – o próximo Estado a ir a votos para os democratas, este sábado – já estão a dar um empate…