“O meu cérebro desligou”. Ouvido pelo jornal britânico The Guardian, Viktor Kazachenko resume assim o episódio que viveu no verão passado, enquanto ia de mota, com a mulher, a caminho da cidade mais próxima.
O caso de Kazachenko é apenas um dos muitos que têm sido registados ao longo dos últimos dois anos em Kalachi, uma aldeia remota no norte do Cazaquistão. Os misteriosos ataques de sono são súbitos e deixam as vítimas numa espécia de coma que chega a durar dias – Viktor Kazachenko, por exemplo, adormeceu a 28 de agosto e acordou a 2 de setembro. Desde então, a sua tensão arterial elevou-se e sofre de dores de cabeça muito intensas.
Outros habitantes de Kalachi relatam ao The Guardian mais sintomas, que se seguem ao sono: tonturas, náuseas e perda de memória.
O primeiro caso foi registado na primavera de 2013 e, desde aí, já afetou mais de 120 pessoas, cerca de um quarto da população total da aldeia, num total de 152 episódios, uma vez que algumas pessoas, como Kazachenko, sofreram mais do que um episódio.
A misteriosa “doença”, chamemos-lhe assim, está a deixar médicos e cientistas intrigados. Já foram analisados os níveis de radiação, de monóxido de carbono, de radão e a acumulação de sais de metais pesados, mas os valores encontrados não serviram, até agora, de explicação. Só até ao final de 2014, segundo o Governo do Cazaquistão, tinham sido conduzidos mais de 20 mil testes clínicos e laboratoriais.
A agência de notícias nacional avança que o país já pediu ajuda à comunidade médica internacional enquanto o The Guardian cita outros meios locais que especulam que já estarão no terreno cientistas do Centro norte-americano para o Controlo e Prevenção de Doenças (CDC).
Enquanto a explicação oficial não chega, os residentes têm, no entanto, a sua própria teoria e apontam o dedo a uma mina de urânio desativada, do tempo da União Soviética, à entrada de Kalachi.
Como medida preventiva, as autoridades optaram por tentar evacuar “voluntariamente” a aledeia, mas, até agora, só 100 habitantes foram deslocados e realojados noutras povoações, com os outrros 425 a recusarem-se a deixar as suas casas.